quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

59° - "O nome da rosa"


Dando sequências aos filmes que tratam da influência dos livros na sociedade, resolvi falar de "O nome da rosa" que é um filme muito conhecido do público (seja por preferência, seja por indicação de professores de história/filosofia). Isso porque o filme é muito bom, e narra uma história de mistério e suspense ambientada na Idade Média; então é um filme que tem uma história interessante e que revela o cenário que a Europa vivia no ano 1300. 
William de Baskerville (Sean Connery) é um franciscano que é chamado a um mosteiro beneditino italiano (que continha o maior acervo cristão do mundo) para desvendar uma série de crimes que vêm ocorrendo no mosteiro, os corpos são encontrados sempre com a ponta de um dedo e a língua pretos; e os monges atribuem o fato ao demônio, enquanto que Baskerville com recursos de investigação a la Sherlock Holmes irá procurar as evidências que levam ao assassino e ao motivo dos crimes.
Como pano de fundo da história percebemos as crueldades praticadas pela Igreja Católica, se no filme de ontem o regime totalitário cerceava a liberdade dos indivíduos, aqui, em "O nome" esse papel é da Igreja, o que nos deixa um pouco desesperançosos porque percebemos que, sempre na história que um homem ou Instituição teve muito poder ele se valeu disso para criar ambientes de terror e grandes injustiças, e o que vemos a Igreja fazer no filme é de uma crueldade sem fim, com bichos, com os pobres, com os próprios clérigos. E veja bem, se não é muito fácil ser mulher hoje em dia, vou te dizer que em 1327 era praticamente impossível, a figura da mulher é completamente associada ao errado, ao demônio, à bruxaria, ao pecado, quando a menina - a única mulher do filme - é pega com um monge (em troca de comida) a culpa é dela porque ela é provocadora do pecado.
Mas os absurdos não param aí, as violências que os monges praticavam com o povo, vivendo na farturas, enquanto o povo na total miséria e descaso; a inquisição com o falso julgamento, já que um único homem decidia o que era heresia, manipulando, torturando, fazendo maldades. A melhor cena é quando os franciscanos estão discutindo com outro tipo de doutrina católica (não sei qual, mas estão todos muito bem vestidos, cheios de pomba, coloridos e com ouro) e os franciscanos argumentam que Cristo não viveu na riqueza enquanto o povo vivia na miséria...
Mas o interessante aqui é que o filme mostra porque a Igreja se entendia desta forma e, claro, não tem nada a ver com Jesus ou com a bíblia, mas com os homens, que até hoje interpretam a bíblia a partir de seus interesses.
E é incrível quando Baskerville e seu pupilo Adso de Melk (Chritian Slater) encontram a biblioteca que fica escondida no porão e é enorme, um labirinto. Baskerville fica fascinado com a quantidade de livros e com seus conteúdos e fala para Adso:
“- Ninguém deveria ser proibido de consultar esses livros
- Talvez eles sejam considerados preciosos e frágeis demais
- Não, não é isso, é porque eles têm uma sabedoria diferente da nossa e odeias que nos fariam por em dúvida a infalibilidade da palavra de Deus”
E é esta reflexão que o leva à origem dos crimes, há um livro considerado proibido, e todos que o encontram e leram foram mortos (porque havia veneno nas páginas), o livro proibido é "o riso" de Aristóteles (título inventado por Humberto Eco, escritor do livro que originou o filme) e sua leitura proibida porque rir afasta o temor, e sem temor não pode haver fé! 
Outra vez, mais um filme que mostra como o conhecimento é perigoso para o autoritarismo, e como a leitura liberta e dá poder.
O nome da rosa (Le nom de la rose, França, Itália, Alemanha, 1986) ****

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