Dando sequências aos
filmes que tratam da influência dos livros na sociedade, resolvi falar de
"O nome da rosa" que é um filme muito conhecido do público (seja por
preferência, seja por indicação de professores de história/filosofia). Isso
porque o filme é muito bom, e narra uma história de mistério e suspense
ambientada na Idade Média; então é um filme que tem uma história interessante e
que revela o cenário que a Europa vivia no ano 1300.
William de Baskerville
(Sean Connery) é um franciscano que é chamado a um mosteiro beneditino italiano
(que continha o maior acervo cristão do mundo) para desvendar uma série de
crimes que vêm ocorrendo no mosteiro, os corpos são encontrados sempre com a
ponta de um dedo e a língua pretos; e os monges atribuem o fato ao demônio,
enquanto que Baskerville com recursos de investigação a la Sherlock Holmes irá
procurar as evidências que levam ao assassino e ao motivo dos crimes.
Como
pano de fundo da história percebemos as crueldades praticadas pela Igreja
Católica, se no filme de ontem o regime totalitário cerceava a liberdade dos
indivíduos, aqui, em "O nome" esse papel é da Igreja, o que nos deixa
um pouco desesperançosos porque percebemos que, sempre na história que um homem
ou Instituição teve muito poder ele se valeu disso para criar ambientes de
terror e grandes injustiças, e o que vemos a Igreja fazer no filme é de uma
crueldade sem fim, com bichos, com os pobres, com os próprios clérigos. E veja
bem, se não é muito fácil ser mulher hoje em dia, vou te dizer que em 1327 era
praticamente impossível, a figura da mulher é completamente associada ao
errado, ao demônio, à bruxaria, ao pecado, quando a menina - a única mulher do
filme - é pega com um monge (em troca de comida) a culpa é dela porque ela é
provocadora do pecado.
Mas
os absurdos não param aí, as violências que os monges praticavam com o povo,
vivendo na farturas, enquanto o povo na total miséria e descaso; a inquisição
com o falso julgamento, já que um único homem decidia o que era heresia,
manipulando, torturando, fazendo maldades. A melhor cena é quando os
franciscanos estão discutindo com outro tipo de doutrina católica (não sei
qual, mas estão todos muito bem vestidos, cheios de pomba, coloridos e com
ouro) e os franciscanos argumentam que Cristo não viveu na riqueza enquanto o
povo vivia na miséria...
Mas
o interessante aqui é que o filme mostra porque a Igreja se entendia desta
forma e, claro, não tem nada a ver com Jesus ou com a bíblia, mas com os
homens, que até hoje interpretam a bíblia a partir de seus interesses.
E é incrível quando Baskerville
e seu pupilo Adso de Melk (Chritian Slater) encontram a biblioteca que fica
escondida no porão e é enorme, um labirinto. Baskerville fica fascinado com a
quantidade de livros e com seus conteúdos e fala para Adso:
“- Ninguém
deveria ser proibido de consultar esses livros
- Talvez eles
sejam considerados preciosos e frágeis demais
- Não, não é
isso, é porque eles têm uma sabedoria diferente da nossa e odeias que nos
fariam por em dúvida a infalibilidade da palavra de Deus”
E é esta reflexão que o
leva à origem dos crimes, há um livro considerado proibido, e todos que o
encontram e leram foram mortos (porque havia veneno nas páginas), o livro
proibido é "o riso" de Aristóteles (título inventado por Humberto Eco,
escritor do livro que originou o filme) e sua leitura proibida porque rir afasta o temor, e sem temor não pode haver fé!
Outra
vez, mais um filme que mostra como o conhecimento é perigoso para o
autoritarismo, e como a leitura liberta e dá poder.
O
nome da rosa (Le nom de la rose, França, Itália, Alemanha, 1986) ****
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