sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

39º - "Django livre"


Finalmente, ontem, consegui assistir a "Django livre", o novo filme do Tarantino e minhas expectativas estavam lá nas alturas, porque "Django" é unanimidade entre meus amigos e conhecidos. É bem difícil para o Tarantino fazer um filme ruim, ele vai ter que se esforçar muito, mas eu acho mesmo que em toda sua doidera ele anda muito previsível... Eu já assisti a 7 filmes dele, e são todos ótimos, bom enredo, boas histórias, bons personagens e diálogos, mas a dinâmica não muda muito.
"Django" tem todos os elementos do diretor, suas referências, diálogos, trilha sonora, tudo muito bom, como sempre, e agora o Tarantino resolveu assumir uma característica de justiceiro do cinema, fez isso em "Bastardos Inglórios" e novamente em "Django", se no primeiro filme ele se vingou dos judeus, ciganos, homossexuais e todos que têm asco dos campos de concentração matando Hitler sem dó nem piedade (até desfigurar sem rosto, morto com tiros e fogo), agora em "Django" ele se vinga dos senhores de escravos negros, literalmente acabando com a Casa Grande, e isso é um deleite. Aliás, eu achei "Django" muito parecido com "Bastardos", que além da temática da vingança ainda têm em comum Christoph Waltz. Se eu já me simpatizava com o coronel Hans Landa de Christoph em "Bastardos", um nazista irônico e cruel, imagine agora, que ele vive o dr. King Schultz, um caçador de recompensas contra o regime de escravatura, gente fina, amigo e correto, enfim ele tem carisma e uma expressão irônica que funciona muito bem (e está presente nos dois filmes, e também em outro que eu vi, não do mesmo diretor: “Deus da carnificina”). Além disso, ambos os filmes você assiste tenso, o tempo todo com aquela sensação de "agora vai dar m***rda".
"Django" é sobre a história sofrida dos negros nos EUA em 1858. O dr. King Schultz compra Django (Jamie Foxx) de mercadores de negros (essa cena, que é a inicial, é ótima) porque é caçador de recompensas (seu papel é ir atrás de pessoas procuradas por crimes, vivas ou mortas, matá-las e pegar o dinheiro) e está atrás dos irmãos Brittle, que Django conhece. Depois de encontrar os irmãos, Schultz convida Django a permanecer com ele durante o inverno e fazer algum dinheiro, depois promete lhe ajudar a comprar Broomhilda (Kerry Washington), esposa de Django que foi vendida separadamente do marido. Os dois localizam Broomhilda em Candyland, fazenda de Calvin Candie, que possui muitos negros, muitos deles para briga (como galos ou cachorros de briga, tudo horrível) e têm que bolar um plano para tentar resgatá-la.
Eu já reparei que cito muito por aqui a duração dos filmes, então nem vou ficar me alongando sobre a duração de "Django" (2 horas e 45 minutos), mas acho que o filme flui muito bem (só acho que o final poderia ser encurtado) e o Taranta consegue muito bem pegar uma história triste e cruel, apresentar toda a crueldade dela (gente, as cenas da briga entre os negros, só por diversão dos senhores, e outra do negro fraco que tentou fugir e foi devorado por cães é triste demais, eu não consegui ver, fiquei me contorcendo na cadeira e tapei os olhos) e ainda assim contrabalanceá-la com personagens divertidos e cenas engraçadas (as pessoas que enchiam a sala do cinema em que estive riram muito, eu também). E ele manda bem nas escolhas dos atores, além de Christoph Waltz (se eu fosse o Tarantino jamais faria um filme sem ele, rs) e Samuel L. Jackson (muso do Taranta há tantos anos e ele está incrível, que raiva que eu tive dele, aff), ainda tem o Leonardo Di Caprio, que é fantástico e fez um vilão tão carismático quanto Hans Landa.
Por falar no Di Caprio estava eu, assistindo ao filme e pensando “engraçado, até agora ainda não vi nenhum diálogo comprido e típico do Tarantino” e eis que surge, já para o final, a cena na qual Calvin Candie (Di Caprio) desmascara King Schultz e Django graças ao ‘feladamãe’ do Stephen (Samuel L. Jackson), que cena incrível! Além das atuações, há diálogos primorosos, como Candie tentando explicar – com um crânio de um ex-escravo na mão – a teoria naturalista dos escravos, que os negros já nasceram com uma capacidade inata para obedecer sem questionar, a cena é pesada e triste, mas real, e nesta mesma fala há algo interessante, quando ele exemplifica: o escravo que cuidou do meu pai fez sua barba por 45 anos, e por 45 anos, todos os dias, esteve com uma navalha afiada em sua garganta e nada fez... É doidera pensar que existe algum apego, como o do próprio Stephen por Candie (quando ele morre, Stephen realmente sofre).
Além de tudo isso, o resto é bem previsível (tirando que neste filme ele faz uma ponta - uma pontona - atuando como um caubói que leva os negros, numa participação a la Hitchcock), sangue jorrando para todos os lados, uma trilha sonora sempre boa, enquadramento da câmera, enfim, eu fiquei com a sensação que o Tarantino gosta mesmo de imprimir sua marca, mas acho que ele poderia ousar mais, está usando uma fórmula que obviamente dá certo, mas que é batida...
Afora minhas implicâncias assistir a “Django” é um prazer, é um filme que você torce, se diverte, sofre e se deleita com um final de glória, vale a pena para lavar a alma.
Django livre (Django Unchained, EUA, 2012) ****

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