quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

58° - "Fahrenheit 451"


Eu tô pra dizer que "Fahrenheit 451" é o melhor filme que eu já vi! Estou impactada com tanta beleza!! A história do filme é incrível! O roteiro e a direção são de Truffaut, e ele se baseou num livro de Ray Bradbury com o mesmo nome, lançado próximo ao “1984” de Geroge Orwell. 
Eu não li o livro, mas o filme é ótimo, quase duas horas de uma história que emociona demais... “Fahrenheit 451” (que é a temperatura na qual os livros começam a entrar em combustão) é ambientado num futuro dominado por um regime totalitarista (e achei um futuro, pense que o filme é de 1966, com elementos bem próximos ao que vivemos hoje, sem exageros) onde Montag (interpretado por Oskar Werner, o loirinho do "Jules and Jim") é um bombeiro, bom profissional, cuja função é queimar livros. Isto porque os livros são proibidos (escrever ou ler também, como na cena na qual Montag está vendo um jornal, com uma história em quadrinhos apenas com desenhos), quem os lê ou os têm é considerado um infrator. Sendo assim, num futuro onde as casas já não pegam mais fogo, o trabalho dos bombeiros é incendiar, não apagar; olha e é bem duro ter que ver a quantidade de livros que são queimados no filme, para causar desconforto mesmo, tem closes e mais closes nos livros queimando, página por página de Flaubert, Dostoiévski, Lewis Carrol, Dalí, ... (dá um aperto no coração).
Se por um lado os livros são proibidos, as TVs são muito mais que estimuladas, são o lazer obrigatório para a população, e a crítica da manipulação da mídia é evidente, na figura da mulher de Montag (vivida por Julie Christie, que parece a Gina dos palitos) que é totalmente alienada. A cena na qual ela acha que está interagindo com um programa de TV me lembrou demais programas que estão tão em evidência hoje, como Big Brother, The Voice, e por aí vai que dão uma ilusão de que os telespectador dialoga diretamente com a programação, que faz parte efetiva dela (volto a lembrar que o filme é de 1966, o livro de 1953, já prevendo esta realidade que é mais recente). 
Neste regime totalitarista (não vemos quem é o ditador, os que estão no poder) a liberdade de decisão e de pensamento das pessoas é totalmente cerceada, seja pela TV, na educação, na coação, na medicação (as pessoas são induzidas a tomar remédios que controlem suas sensações e emoções) e até numa cena estranha, quando a esposa de Montag sofre um envenenamento de tanto remédio e os enfermeiros trocam seu sangue, cuja consequência é quase uma lavagem cerebral. Na verdade as pessoas se esquecem, não têm memória, não têm grandes sofrimentos ou grandes alegrias, são robôs, totalmente controlados.
É claro que neste cenário os livros serão proibidos, pois a leitura tira da inércia e faz pensar, pois conhecimento é poder. O mais interessante aqui são os argumentos utilizados pelos bombeiros para que os livros sejam proibidos, porque são subversivos, porque te levam a ver um mundo que você nunca poderá viver e por isso te tornará infeliz (isto porque num mundo de controle sonhar é uma contravenção).
É claro que os bombeiros proferem o discurso porque foram treinados para isso, como mostra bem na academia de bombeiros, eles são induzidos a acreditar que aquela é a melhor maneira de viver (poxa, como parece com "A vida dos outros", ou melhor, "A vida" parece com "Fahrenheit"). Montag também fazia parte deste grupo, até que um dia conhece no metrô, voltando para casa, Clarisse (também interpretada por Julie Christie, que é a Lara de "Doutor Jivago") sua vizinha conversadeira e lá pelas tantas lhe pergunta: "você nunca teve curiosidade de ler um livro antes de queimá-lo?", pronto o processo é irreversível, Montag começa a ler, a questionar sua realidade, a mudar seu comportamento em casa e no trabalho...
A maior beleza no filme são os homens-livro, quando Montag se atrapalha e acaba matando seu chefe para não ter que queimar seu livro preferido (Histórias de Mistério e Imaginação de Edgar Allan Poe) ele tem que fugir e acaba chegando num dos acampamentos onde vivem os homens-livros, são pessoas apaixonadas por livros, sendo que cada uma delas decorou seu livro favorito - em seguida o queimou - para que um dia, no fim da repressão, eles pudessem recitar os livros e publicá-los novamente. Neste acampamento, o nome próprio vira o nome do próprio livro, e eles são vistos como relíquias, porque carregam com si o maior tesouro que possa existir (ahh!). Tem uma cena lindíssima, de um senhor acamado, quase morrendo, mas antes precisa ditar e fazer seu sobrinho - um garoto - decorar o seu livro. E assim, de todas as riquezas que eu vi nessas quase duas horas de filme, a mensagem do final é realmente cativante: que há esperança no ser humano, na sua fé nas palavras e na beleza do conhecimento.
Fahrenheit 451 (Reino Unido, França, 1966) *****

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