Eu tô pra dizer que
"Fahrenheit 451" é o melhor filme que eu já vi! Estou impactada com
tanta beleza!! A história do filme é incrível! O roteiro e a direção são de
Truffaut, e ele se baseou num livro de Ray Bradbury com o mesmo nome, lançado
próximo ao “1984” de Geroge Orwell.
Eu
não li o livro, mas o filme é ótimo, quase duas horas de uma história que
emociona demais... “Fahrenheit 451” (que é a temperatura na qual os livros
começam a entrar em combustão) é ambientado num futuro dominado por um regime
totalitarista (e achei um futuro, pense que o filme é de 1966, com elementos
bem próximos ao que vivemos hoje, sem exageros) onde Montag (interpretado por Oskar
Werner, o loirinho do "Jules and Jim") é um bombeiro, bom
profissional, cuja função é queimar livros. Isto porque os livros são proibidos
(escrever ou ler também, como na cena na qual Montag está vendo um jornal, com
uma história em quadrinhos apenas com desenhos), quem os lê ou os têm é
considerado um infrator. Sendo assim, num futuro onde as casas já não pegam
mais fogo, o trabalho dos bombeiros é incendiar, não apagar; olha e é bem duro
ter que ver a quantidade de livros que são queimados no filme, para causar
desconforto mesmo, tem closes e mais closes nos livros queimando, página por
página de Flaubert, Dostoiévski, Lewis Carrol, Dalí, ... (dá um aperto no
coração).
Se por um lado os livros
são proibidos, as TVs são muito mais que estimuladas, são o lazer obrigatório
para a população, e a crítica da manipulação da mídia é evidente, na figura da
mulher de Montag (vivida por Julie Christie, que parece a Gina dos palitos) que
é totalmente alienada. A cena na qual ela acha que está interagindo com um
programa de TV me lembrou demais programas que estão tão em evidência hoje,
como Big Brother, The Voice, e por aí vai que dão uma ilusão de que os
telespectador dialoga diretamente com a programação, que faz parte efetiva dela
(volto a lembrar que o filme é de 1966, o livro de 1953, já prevendo esta
realidade que é mais recente).
Neste
regime totalitarista (não vemos quem é o ditador, os que estão no poder) a
liberdade de decisão e de pensamento das pessoas é totalmente cerceada, seja
pela TV, na educação, na coação, na medicação (as pessoas são induzidas a tomar
remédios que controlem suas sensações e emoções) e até numa cena estranha,
quando a esposa de Montag sofre um envenenamento de tanto remédio e os
enfermeiros trocam seu sangue, cuja consequência é quase uma lavagem cerebral.
Na verdade as pessoas se esquecem, não têm memória, não têm grandes sofrimentos
ou grandes alegrias, são robôs, totalmente controlados.
É
claro que neste cenário os livros serão proibidos, pois a leitura tira da
inércia e faz pensar, pois conhecimento é poder. O mais interessante aqui são
os argumentos utilizados pelos bombeiros para que os livros sejam proibidos,
porque são subversivos, porque te levam a ver um mundo que você nunca poderá viver
e por isso te tornará infeliz (isto porque num mundo de controle sonhar é uma
contravenção).
É
claro que os bombeiros proferem o discurso porque foram treinados para isso,
como mostra bem na academia de bombeiros, eles são induzidos a acreditar que
aquela é a melhor maneira de viver (poxa, como parece com "A vida dos
outros", ou melhor, "A vida" parece com "Fahrenheit").
Montag também fazia parte deste grupo, até que um dia conhece no metrô,
voltando para casa, Clarisse (também interpretada por Julie Christie, que é a
Lara de "Doutor Jivago") sua vizinha conversadeira e lá pelas tantas
lhe pergunta: "você nunca teve curiosidade de ler um livro antes de
queimá-lo?", pronto o processo é irreversível, Montag começa a ler, a
questionar sua realidade, a mudar seu comportamento em casa e no trabalho...
A
maior beleza no filme são os homens-livro, quando Montag se atrapalha e acaba
matando seu chefe para não ter que queimar seu livro preferido (Histórias de
Mistério e Imaginação de Edgar Allan Poe) ele tem que fugir e acaba chegando
num dos acampamentos onde vivem os homens-livros, são pessoas apaixonadas por
livros, sendo que cada uma delas decorou seu livro favorito - em seguida o
queimou - para que um dia, no fim da repressão, eles pudessem recitar os livros
e publicá-los novamente. Neste acampamento, o nome próprio vira o nome do
próprio livro, e eles são vistos como relíquias, porque carregam com si o maior
tesouro que possa existir (ahh!). Tem uma cena lindíssima, de um senhor
acamado, quase morrendo, mas antes precisa ditar e fazer seu sobrinho - um
garoto - decorar o seu livro. E assim, de todas as riquezas que eu vi nessas
quase duas horas de filme, a mensagem do final é realmente cativante: que há
esperança no ser humano, na sua fé nas palavras e na beleza do conhecimento.
Fahrenheit
451 (Reino Unido, França, 1966) *****
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