sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

46º - "Amor"


Ai meu Deus, eu vi "Amor" e poxa o filme é um soco certeiro na boca do estômago... Eu fiquei tão impactada, tão sensibilizada, que eu não conversei mais depois do filme, só fui voltar ao normal no outro dia. "Amor" certamente é um dos melhores filmes que eu vi ultimamente, mas ele é doído, dessas dores que doem na gente não sei onde nem por que; dessas que você demora pra entender. Mas acho que dá pra compreender um pouco, porque em "Amor" a gente se sensibiliza com a história, mas também se identifica, seja por conta de algum parente, seja como um espelho mesmo.
 O filme começa com uma cena bonita com a câmera parada mostrando a plateia de um concerto, a cena é longa e a gente fica observando-os enquanto eles também nos observam. Mostra como Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) têm uma vida social, vão ao teatro, andam de ônibus, conversam, são felizes. Mas isso é no início do filme, porque já no outro dia, no café da manhã, Anne sofre um derrame e então o filme mostra como o casal, sozinho, vai lidar com a doença e com o fim da vida. Se a velhice - para um casal que aparentemente amou e ama a vida - não é algo fácil de encarar, o filme tampouco o é. Ver Anne debilitada e George cuidando dela com todo o carinho e dificuldade é de cortar o coração (pelos dois), o filme ainda tem outros personagens, totalmente coadjuvantes na vida deles, como os vizinhos, as enfermeiras e a filha, que mora em outro país, visita raramente o pai e tem uma visão crítica, pensando que há sempre algo a ser feito que o pai não faz por opção, a relação dela é dura e os pais não se identificam com ela nem com o genro. O resto do filme se passa todo dentro da casa deles, mostrando as dificuldades do casal de encarar o fim da vida, é paralisante. Eu chorei muito e em várias vezes no filme, especialmente com as cenas de Anne, nas quais o diretor coloca uma câmera parada nela, e a expressão de tristeza é terrível. E o final do filme? É arrebatador!
Particularmente eu já passei por algo parecido, tive uma tia muito querida e amada por todos nós, a tia Odete, que era uma professora ativa e exemplar, orgulho da família, super inteligente e bondosa com todos da família e da comunidade e ela passou um fim de vida muito, muito próximo ao de Anne no filme, e se encarar duas horas já é difícil, na vida real também não é. E Anne tem consciência do que vai lhe acontecer, ela foi professora de música, uma mulher inteligente e a atriz Emmanuelle realmente está brilhante no papel, a diferença entre Anne ativa, no início do filme, para a Anne debilitada, acamada, é incrível. Mas o ator Jean-Louis, que interpreta Georges, também não fica atrás e está ótimo no papel.
Eu achei muito bacana a escolha do diretor por cenas longas, arrastadas porque quem convive com gente idosa sabe que o tempo deles é assim, mais devagar, e essa escolha deixou a gente em mais contato com a vida e a angústia deles.
E sabe o que eu achei mais genial? Num filme que chama "Amor" não tem nenhum "eu te amo" ou declarações de amor explícitas, mas ainda assim eu acho que é o amor mais bonito que eu já vi no cinema, o amor do cuidado, da parceria, do companheirismo, de quem teve, apesar do final, o privilégio de viver uma vida juntos, e isso é amor.
Amor (Amour, França, Alemanha, Áustria, 2012) *****

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