Ai meu Deus, eu vi
"Amor" e poxa o filme é um soco certeiro na boca do estômago... Eu
fiquei tão impactada, tão sensibilizada, que eu não conversei mais depois do
filme, só fui voltar ao normal no outro dia. "Amor" certamente é um
dos melhores filmes que eu vi ultimamente, mas ele é doído, dessas dores que
doem na gente não sei onde nem por que; dessas que você demora pra entender.
Mas acho que dá pra compreender um pouco, porque em "Amor" a gente se
sensibiliza com a história, mas também se identifica, seja por conta de algum
parente, seja como um espelho mesmo.
O
filme começa com uma cena bonita com a câmera parada mostrando a plateia de um
concerto, a cena é longa e a gente fica observando-os enquanto eles também nos
observam. Mostra como Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva)
têm uma vida social, vão ao teatro, andam de ônibus, conversam, são felizes.
Mas isso é no início do filme, porque já no outro dia, no café da manhã, Anne
sofre um derrame e então o filme mostra como o casal, sozinho, vai lidar com a
doença e com o fim da vida. Se a velhice - para um casal que aparentemente amou
e ama a vida - não é algo fácil de encarar, o filme tampouco o é. Ver Anne
debilitada e George cuidando dela com todo o carinho e dificuldade é de cortar
o coração (pelos dois), o filme ainda tem outros personagens, totalmente
coadjuvantes na vida deles, como os vizinhos, as enfermeiras e a filha, que
mora em outro país, visita raramente o pai e tem uma visão crítica, pensando
que há sempre algo a ser feito que o pai não faz por opção, a relação dela é
dura e os pais não se identificam com ela nem com o genro. O resto do filme se
passa todo dentro da casa deles, mostrando as dificuldades do casal de encarar
o fim da vida, é paralisante. Eu chorei muito e em várias vezes no filme,
especialmente com as cenas de Anne, nas quais o diretor coloca uma câmera
parada nela, e a expressão de tristeza é terrível. E o final do filme? É
arrebatador!
Particularmente
eu já passei por algo parecido, tive uma tia muito querida e amada por todos
nós, a tia Odete, que era uma professora ativa e exemplar, orgulho da família,
super inteligente e bondosa com todos da família e da comunidade e ela passou
um fim de vida muito, muito próximo ao de Anne no filme, e se encarar duas
horas já é difícil, na vida real também não é. E Anne tem consciência do que
vai lhe acontecer, ela foi professora de música, uma mulher inteligente e a
atriz Emmanuelle realmente está brilhante no papel, a diferença entre Anne
ativa, no início do filme, para a Anne debilitada, acamada, é incrível. Mas o
ator Jean-Louis, que interpreta Georges, também não fica atrás e está ótimo no
papel.
Eu
achei muito bacana a escolha do diretor por cenas longas, arrastadas porque
quem convive com gente idosa sabe que o tempo deles é assim, mais devagar, e
essa escolha deixou a gente em mais contato com a vida e a angústia deles.
E
sabe o que eu achei mais genial? Num filme que chama "Amor" não tem
nenhum "eu te amo" ou declarações de amor explícitas, mas ainda assim
eu acho que é o amor mais bonito que eu já vi no cinema, o amor do cuidado, da
parceria, do companheirismo, de quem teve, apesar do final, o privilégio de
viver uma vida juntos, e isso é amor.
Amor (Amour, França,
Alemanha, Áustria, 2012) *****
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