quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

52° - "O lado bom da vida"



"porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, o que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante - pop! - pode-se ver um brilho azul intenso até que todos 'aaaaaah!'". Kerouac, "On the road"

Olha, eu gostei muito de "O lado bom da vida", mais do que eu imaginei que gostaria. Estava com um pouco de preguiça de ver e o trailer não é lá tão convidativo, mas o filme é bacana, uma comédia romântica que tem seus elementos, mas não sobrevive deles. Isso tudo porque o que eu mais gostei foi que ambos protagonistas são totalmente desajustados socialmente, são visto pelo grupo como loucos, não assim loucos como "Um estranho no ninho", mas quase lá.
Pat Solitano (Bradley Cooper) foi internado numa clínica psiquiátrica depois de ser diagnosticado como bipolar e, uma semana depois, pegar no flagra sua esposa com um colega de trabalho (são todos professores, eu até achei legal, que é uma profissão que deixa a gente pirado mesmo...) no banheiro da casa deles enquanto ao fundo estava tocando a música do casamento deles, é de pirar não?! Pat tem um acesso de fúria e espanca o amante da esposa e, com isso, perde o trabalho, a casa e a esposa (eu coloquei em ordem de importância, no caso dele). Sua mãe, fofíssima, Dolores Solitano (Jacki Weaver) o tira do hospital sob sua responsabilidade, pois após 8 meses ela crê que o filho já pode voltar ao lar e aos seus. Então Pat volta, com a ilusão que se reconquistar sua esposa reconquistará toda sua vida anterior e tudo voltará ao normal, mas o que é normal? Será que é mesmo bacana ou apenas uma escolha mais fácil? Neste processo de loucura e normalidade me pareceu que Pat é um cara bem mais feliz que Roonie (John Ortiz), seu amigo, que tem uma vida considerada normal, mas enfrenta uma grande pressão e é infeliz. Neste caso a loucura é uma libertação, se todos te acham doido, se ninguém tem grandes expectativas sobre você, então você é livre para falar o que pensa, para fazer o que quer.
Esse amigo, Roonie, convida Pat para um jantar na sua casa e lá ele conhece a cunhada do amigo, Tiffany (Jennifer Lawrence) cujo marido faleceu recentemente (pra mim um motivo para ficar enlouquecido para o resto da vida) e que também é vista pelos outros como desajustada, doida... Eles começam uma amizade, ela se encanta por Pat desde o início, ele vê em Tiffany uma maneira de chegar até Nikki (sua ex-esposa) já que tem um mandato de restrição e não pode chegar a menos de 150 metros dela. Tiffany diz que só o ajudará se ele fizer algo por ela, se ele a ajudar num concurso de dança, como seu companheiro, e ele aceita. O resto é mais ou menos previsível.
E é bacana a maneira como eles encaram a vida, e olha eu sei que todo mundo anda falando da Jennifer Lawrence, mas Bradley Cooper está muito bom no papel, tem cenas fortes e ele oscila tanto no humor, quanto na lucidez e sei não, mas acho que deve ser bem difícil fazer esse papel que é cheio de estereótipos.
Mas gosto muito da Tiffany e de suas cenas com Pat, eu fiquei pensando que cada um de nós tem um botão do "foda-se", existe um limite do que é tolerável, do que é suportável; se você chega neste limite dali pra frente já não vale a pena fingir, pra quê? Pra agradar a quem? A sociedade espera de nós muitas coisas, que sejamos amáveis e afáveis, educados e comprometidos, mas com Pat e Tiffany não. E gostei muito da cena na qual eles conversam, ele a chama de vadia (porque ela, em crise pela morte do marido, resolveu transar com todos do trabalho) e ela diz: sim já fui, isso é uma parte da minha vida e que eu aceito como todo o resto, e você, pode falar o mesmo sobre si? E eu não sei se eu tenho pensado muito sobre isso ultimamente, mas eu acho que a gente tem que aprender a se perdoar e esse não é um processo fácil.
Acho que quando começa a questão da música o filme toma outro rumo, mais leve, mas também mais previsível. Além de tudo e todos ainda tem Robert de Niro (que foi indicado ao Oscar) como pai de Pat, e "O lado" tem várias cenas divertidas e leves (eu achei divertido, uma moça ao meu lado o achou hilário, gargalhou em vários momentos). O Oscar é nesse domingo, dia 24, e "O lado" tem 8 indicações, inclusive todas as 4 de atores, de direção e de melhor filme. Vale muito a pena!
O lado bom da vida (Silver Linings Playbook, EUA, 2012) ****


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