"porque, para mim,
pessoas mesmo são os loucos, o que estão loucos para viver, loucos para falar,
loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que
nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos
fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante -
pop! - pode-se ver um brilho azul intenso até que todos 'aaaaaah!'".
Kerouac, "On the road"
Olha,
eu gostei muito de "O lado bom da vida", mais do que eu imaginei que
gostaria. Estava com um pouco de preguiça de ver e o trailer não é lá tão
convidativo, mas o filme é bacana, uma comédia romântica que tem seus
elementos, mas não sobrevive deles. Isso tudo porque o que eu mais gostei foi
que ambos protagonistas são totalmente desajustados socialmente, são visto pelo
grupo como loucos, não assim loucos como "Um estranho no ninho", mas
quase lá.
Pat
Solitano (Bradley Cooper) foi internado numa clínica psiquiátrica depois de ser
diagnosticado como bipolar e, uma semana depois, pegar no flagra sua esposa com
um colega de trabalho (são todos professores, eu até achei legal, que é uma
profissão que deixa a gente pirado mesmo...) no banheiro da casa deles enquanto
ao fundo estava tocando a música do casamento deles, é de pirar não?! Pat tem
um acesso de fúria e espanca o amante da esposa e, com isso, perde o trabalho,
a casa e a esposa (eu coloquei em ordem de importância, no caso dele). Sua mãe,
fofíssima, Dolores Solitano (Jacki Weaver) o tira do hospital sob sua
responsabilidade, pois após 8 meses ela crê que o filho já pode voltar ao lar e
aos seus. Então Pat volta, com a ilusão que se reconquistar sua esposa
reconquistará toda sua vida anterior e tudo voltará ao normal, mas o que é
normal? Será que é mesmo bacana ou apenas uma escolha mais fácil? Neste
processo de loucura e normalidade me pareceu que Pat é um cara bem mais feliz
que Roonie (John Ortiz), seu amigo, que tem uma vida considerada normal, mas
enfrenta uma grande pressão e é infeliz. Neste caso a loucura é uma libertação,
se todos te acham doido, se ninguém tem grandes expectativas sobre você, então
você é livre para falar o que pensa, para fazer o que quer.
Esse
amigo, Roonie, convida Pat para um jantar na sua casa e lá ele conhece a
cunhada do amigo, Tiffany (Jennifer Lawrence) cujo marido faleceu recentemente
(pra mim um motivo para ficar enlouquecido para o resto da vida) e que também é
vista pelos outros como desajustada, doida... Eles começam uma amizade, ela se
encanta por Pat desde o início, ele vê em Tiffany uma maneira de chegar até
Nikki (sua ex-esposa) já que tem um mandato de restrição e não pode chegar a
menos de 150 metros dela. Tiffany diz que só o ajudará se ele fizer algo por
ela, se ele a ajudar num concurso de dança, como seu companheiro, e ele aceita.
O resto é mais ou menos previsível.
E
é bacana a maneira como eles encaram a vida, e olha eu sei que todo mundo anda
falando da Jennifer Lawrence, mas Bradley Cooper está muito bom no papel, tem
cenas fortes e ele oscila tanto no humor, quanto na lucidez e sei não, mas acho
que deve ser bem difícil fazer esse papel que é cheio de estereótipos.
Mas
gosto muito da Tiffany e de suas cenas com Pat, eu fiquei pensando que cada um
de nós tem um botão do "foda-se", existe um limite do que é
tolerável, do que é suportável; se você chega neste limite dali pra frente já
não vale a pena fingir, pra quê? Pra agradar a quem? A sociedade espera de nós
muitas coisas, que sejamos amáveis e afáveis, educados e comprometidos, mas com
Pat e Tiffany não. E gostei muito da cena na qual eles conversam, ele a chama
de vadia (porque ela, em crise pela morte do marido, resolveu transar com todos
do trabalho) e ela diz: sim já fui, isso é uma parte da minha vida e que eu
aceito como todo o resto, e você, pode falar o mesmo sobre si? E eu não sei se
eu tenho pensado muito sobre isso ultimamente, mas eu acho que a gente tem que
aprender a se perdoar e esse não é um processo fácil.
Acho
que quando começa a questão da música o filme toma outro rumo, mais leve, mas
também mais previsível. Além de tudo e todos ainda tem Robert de Niro (que foi
indicado ao Oscar) como pai de Pat, e "O lado" tem várias cenas
divertidas e leves (eu achei divertido, uma moça ao meu lado o achou hilário,
gargalhou em vários momentos). O Oscar é nesse domingo, dia 24, e "O
lado" tem 8 indicações, inclusive todas as 4 de atores, de direção e de
melhor filme. Vale muito a pena!
O
lado bom da vida (Silver Linings Playbook, EUA, 2012) ****
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