Imagine uma criança, uma
menina esperta e inteligente, que mora no campo, mas com um
padrasto despótico e uma mãe grávida e muito doente, acamada; sua vida é tão
cruel que é preferível viver na imaginação, acreditar piamente nos contos de
fadas. Ofélia (Ivana Banquero) encontra uma ruína do que já foi um labirinto e
dentro dele ela encontra-se com fadas e com um fauno (tadinho, horroroso, mas
com senso de humor), esse fauno a faz acreditar que Ofélia é, na verdade, uma
princesa de um mundo subterrâneo, mas que decidiu ver a luz do sol e se
esqueceu de seu verdadeiro lar. Para poder voltar para sua casa e seus pais, os
reis, a menina terá que passar por três provas, todas elas envolvendo perigos
que vão revelar seu caráter e coragem. Nessas provas, Ofélia encontra com verdadeiros
monstros, horríveis, o monstro cujos olhos estão nas mãos é a coisa mais feia
que eu já vi no cinema (tudo bem que eu não sou muito de filme de terror, mas
vá, eu já vi o Allien, por exemplo, e esse o deixa 'no chinelo') e então, pense
nessa menina que prefere conviver com esses monstros, com o medo, a ter que
encarar sua realidade, que é muito mais feia e infeliz. As fantasias de Ofélia
não demonstram a inocência de uma criança, mas um subterfúgio para conseguir
sobreviver emocionalmente à sua realidade.
A
época é 1944, na Espanha fascista, e o padrasto de Ofélia é o capitão Vidal
(Sergi López), esqueça Darth Vader, capitão Vidal é uns dos vilões mais cruéis
que já vi em filmes, é inacreditável, ele é brutal, misógino,
arrogante, desumano, “feladamãe” que mata crianças a sangue frio, tortura,
assassina sem nenhum motivo com crueldade, affe, a lista dele é imensa e é por
isso que a cena na qual Mercedes (Maribel Verdú) - a empregada que está do lado
dos rebeldes - o esfaqueia e diz que está acostumada a abrir porco é um
delírio.
"O
labirinto do fauno" é também um filme tenso, seja nas cenas da fantasia de
Ofélia, seja nas cenas da realidade, porque há um suspense reinando na casa,
onde Carmen (Ariadna Gil) está grávida e doente, o médico e Mercedes tentam
ajudar os revolucionários que estão no campo e prestes a atacar. Lançado em
2006 e dirigido por Guillermo del Toro (que eu bem confundia com Benicio Del
Toro, há), "O labirinto" é certamente um dos filmes mais belos que eu
já vi (tanto é que tenho uma cópia em casa, eu não sou de baixar filmes, gosto
de comprar os DVDs, ter capa, essas coisas). O ambiente criado pelos produtores
e pelo diretor é também belíssimo, os cenários e as cores, o filme é quase
monocromático, é escuro, sem vida, a não ser na cena final.
Aliás,
a cena final do filme é espetacular, e eu gosto muito de filmes que tem um quê
de livro, que deixam a gente imaginar!! Será que Ofélia realmente viveu na
fantasia ou apenas a idealizou para matizar sua vida tão sofrida? Não precisa
de resposta, é tudo tão amarrado, belo e também triste que realmente mereceu os
3 Oscars que ganhou.
Eu
sou uma sonhadora nesta vida e esse é um dos motivos pelo qual gosto tanto de
filmes que abordam como a fantasia serve para tornar a vida mais leve, e nesse
sentido "O labirinto" lembra muito "Peixe grande e suas
histórias maravilhosas". Mas também, pasmem, me lembrou "Alice no
país das maravilhas" (o do Tim Burton que pouca gente gosta, e eu sim) e
também "Bastardos Inglórios", principalmente no fim, quando os
rebeldes cercam o capitão com o filho nos braços, ele olha no relógio que foi
do pai, entrega o filho e pede: "por favor, digam ao meu filho a hora em
que morri" e ouve de volta "não, seu filho nem vai saber seu nome",
há, é um júbilo.
Todos esses fatores
constroem um filme realmente incrível, com cenas e personagens surreais e aterrorizantes. Apesar de ser um filme de fantasia e também classificado como filme de terror, mas acima de tudo é um filme criativo, com uma história diferente e encantadora.
O labirinto do fauno (El
laberinto Del fauno, Espanha e México, 2006) *****
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