terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

36° - "O labirinto do fauno"


Imagine uma criança, uma menina esperta e inteligente,  que mora no campo, mas com um padrasto despótico e uma mãe grávida e muito doente, acamada; sua vida é tão cruel que é preferível viver na imaginação, acreditar piamente nos contos de fadas. Ofélia (Ivana Banquero) encontra uma ruína do que já foi um labirinto e dentro dele ela encontra-se com fadas e com um fauno (tadinho, horroroso, mas com senso de humor), esse fauno a faz acreditar que Ofélia é, na verdade, uma princesa de um mundo subterrâneo, mas que decidiu ver a luz do sol e se esqueceu de seu verdadeiro lar. Para poder voltar para sua casa e seus pais, os reis, a menina terá que passar por três provas, todas elas envolvendo perigos que vão revelar seu caráter e coragem. Nessas provas, Ofélia encontra com verdadeiros monstros, horríveis, o monstro cujos olhos estão nas mãos é a coisa mais feia que eu já vi no cinema (tudo bem que eu não sou muito de filme de terror, mas vá, eu já vi o Allien, por exemplo, e esse o deixa 'no chinelo') e então, pense nessa menina que prefere conviver com esses monstros, com o medo, a ter que encarar sua realidade, que é muito mais feia e infeliz. As fantasias de Ofélia não demonstram a inocência de uma criança, mas um subterfúgio para conseguir sobreviver emocionalmente à sua realidade.
A época é 1944, na Espanha fascista, e o padrasto de Ofélia é o capitão Vidal (Sergi López), esqueça Darth Vader, capitão Vidal é uns dos vilões mais cruéis que já vi em filmes, é inacreditável, ele é brutal, misógino,  arrogante, desumano, “feladamãe” que mata crianças a sangue frio, tortura, assassina sem nenhum motivo com crueldade, affe, a lista dele é imensa e é por isso que a cena na qual Mercedes (Maribel Verdú) - a empregada que está do lado dos rebeldes - o esfaqueia e diz que está acostumada a abrir porco é um delírio.
"O labirinto do fauno" é também um filme tenso, seja nas cenas da fantasia de Ofélia, seja nas cenas da realidade, porque há um suspense reinando na casa, onde Carmen (Ariadna Gil) está grávida e doente, o médico e Mercedes tentam ajudar os revolucionários que estão no campo e prestes a atacar. Lançado em 2006 e dirigido por Guillermo del Toro (que eu bem confundia com Benicio Del Toro, há), "O labirinto" é certamente um dos filmes mais belos que eu já vi (tanto é que tenho uma cópia em casa, eu não sou de baixar filmes, gosto de comprar os DVDs, ter capa, essas coisas). O ambiente criado pelos produtores e pelo diretor é também belíssimo, os cenários e as cores, o filme é quase monocromático, é escuro, sem vida, a não ser na cena final.
Aliás, a cena final do filme é espetacular, e eu gosto muito de filmes que tem um quê de livro, que deixam a gente imaginar!! Será que Ofélia realmente viveu na fantasia ou apenas a idealizou para matizar sua vida tão sofrida? Não precisa de resposta, é tudo tão amarrado, belo e também triste que realmente mereceu os 3 Oscars que ganhou.
Eu sou uma sonhadora nesta vida e esse é um dos motivos pelo qual gosto tanto de filmes que abordam como a fantasia serve para tornar a vida mais leve, e nesse sentido "O labirinto" lembra muito "Peixe grande e suas histórias maravilhosas". Mas também, pasmem, me lembrou "Alice no país das maravilhas" (o do Tim Burton que pouca gente gosta, e eu sim) e também "Bastardos Inglórios", principalmente no fim, quando os rebeldes cercam o capitão com o filho nos braços, ele olha no relógio que foi do pai, entrega o filho e pede: "por favor, digam ao meu filho a hora em que morri" e ouve de volta "não, seu filho nem vai saber seu nome", há, é um júbilo.
Todos esses fatores constroem um filme realmente incrível, com cenas e personagens surreais e aterrorizantes. Apesar de ser um filme de fantasia e também classificado como filme de terror, mas acima de tudo é um filme criativo, com uma história diferente e encantadora. 
O labirinto do fauno (El laberinto Del fauno, Espanha e México, 2006) *****

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