"Os miseráveis"
tem provocado em mim sentimentos controversos, já nos primeiros minutos do
filme eu fiquei maravilhada, com a música, com a cena (sim, eu gostei da cena
inicial dos escravos puxando um navio), com os personagens, mas o filme foi se
desenvolvendo, desenvolvendo, desenvolvendo e lá na metade eu já tava de boa
com tanta cantoria, e cheguei a pensar que jamais o indicaria aqui, mas depois o filme foi acontecendo, acontecendo,
acontecendo, e teve um final lindo, de arrasar. Quando saí do cinema já estava
com outra sensação e hoje gosto do filme mais ainda, vou tentar colocar minha
opinião e defendê-lo.
"Les
Mis" não é pra qualquer um, primeiro porque é um musical, gênero que
geralmente divide quem ama e quem odeia - eu confesso que não sou grande fã - além
disso, o filme faz pouco para agradar gregos e troianos, ele é difícil de ver.
Falo isso porque "Les Mis" tem quase três horas de cantorias
ininterruptas, as frases que não são cantadas devem contabilizar uns 3% do
filme, são pouquíssimas. Então fica difícil, para meu gosto o filme deveria
ter, no máximo, 2 horas e pronto. É que chega uma hora que a gente cansa, a
mocinha encontra o mocinho eles começam a cantar e eu pensei "tá bom, eu
já sei que vocês se amam, blábláblá, próxima!". E eu não sei se a minha
tolerância para musicais já estava pequena, mas eu gostei pouco da terceira
parte do filme (a parte na qual Cosette já está crescida).
Mas
a história de "Les Mis" é maravilhosa! Tudo bem que já vimos vários
elementos presentes em outros enredos (e certamente baseados nele), e é uma
história complexa, com vários personagens e várias outras histórias. Começa com
Jean Valjean (Hugh Jackman) sendo libertado de uma prisão onde esteve 19 anos
por roubar um pão para sua irmã e sobrinho que passavam fome, e Javert (Russel
Crowe, gente o que é o final de Javert, putz, maravilha), um inspetor do governo francês percebe o ódio e revolta de Jean. Como
ficou preso por 19 anos (5 pelo roubo do pão e os outros por tentar fugir),
Jean é considerado perigoso e isso está escrito no seu papel (uma espécie de
documento de identidade) e por isso ninguém quer lhe dar trabalho ou abrigo.
Mas um padre, bondoso como só poderia ser na ficção (pensem na Igreja Católica
do séc XIX) resolve dar abrigo, comida e uma nova chance a Jean, e quando ele
tenta fugir com peças de prata da Igreja, é pego e o padre diz que o deu de
presente (a cena é muito bonita, principalmente depois, de Jean conversando com
Deus). Depois disso Jean resolve se tornar um homem de bem, passam-se anos, ele
enriquece, tem uma fábrica na qual trabalha Fantine (Anne Hathaway) que precisa
do dinheiro para sustentar uma filha que teve solteira e que mora com
conhecidos. Mas Fantine é injustamente mandada embora e para arrumar o dinheiro
da filha vende seu cabelo, seu dente e tem que se prostituir; quando ela quase
está indo presa, Jean a encontra e, arrependido por não ter impedido sua
demissão lhe promete que cuidará de sua filha, Cosette. Jean vai atrás de
Cosette e a compra de seus "tutores", os trambiqueiros Thénardier
e sua esposa (Sacha Baron e Helena Bonham Carter). Na terceira parte do filme
se passaram mais nove anos, Jean ainda foge de Javert (que o reconheceu, mesmo
ele rico e bem vestido), Cosette está crescida (agora interpretada por Amanda
Seyfried), e se apaixona por Marius (Eddie Redmayne) que, apesar de pertencer a uma família rica, é um dos líderes dos revoltosos contra o sistema vigente.
Escrito por Victor Hugo e
lançado em 1862, 30 anos após o início de sua escrita, “Les Miserables” é uma
obra-prima que virou um musical famoso e já rendeu outros filmes. É impossível
deixar de dizer que, ao final do filme, eu fiquei mesmo foi com vontade de ler
o livro.
Li em algum site que
Victor Hugo resolveu escrever o livro quando foi dar uma volta e percebeu o
tamanho da desigualdade da França estampado na cara de um pobre vendo um rico
descer de sua carruagem. Aliás, a gente fica chocado com o tamanho da injustiça
e da desigualdade mostradas no filme. É claro que, infelizmente, ainda hoje vivemos
num mundo, e num país, no qual as desigualdades sociais e econômicas são
alarmantes, mas é triste de ver várias pessoas, na cidade, passando fome,
sujas, doentes, miseráveis.
Mas no meu coraçãozinho “Os
miseráveis” ganhou lugar graças – além do enredo - a algumas músicas e
encenações que são ótimas, como a música do início (“Look down, look down...”),
a música que as prostitutas cantam para apresentar seu lugar (a cena é linda)
e, claro “I dreamed a dream” cantado por Fantine. Vamos combinar, a Anne
Hathaway está incrível!! Ela fica pouco no filme, mas todas as cenas nas quais
ela aparece são maravilhosas, ela cantando é lindo, ela atuando ainda mais. Vou
dizer que ela me conquistou, eu chorei duas vezes vendo o filme e nas duas
vezes foi quando ela apareceu (quando ela canta “I dreamed a dream” depois de
se prostituir pela primeira vez e no fim, quando ela vem buscar Jean, cena
linda, ele também reencontra o padre que lhe ajudou no passado que canta algo
do tipo “quando ajudamos um irmão sentimos a face de Deus”).
O fim do filme é também
maravilhoso, mas eu estava tão cansada de cantoria que eu não entendi ao
certo se Jean foi pro céu ou pro inferno, já que encontrou seus colegas mortos e,
claro, eles recomeçaram a cantar...
Mas a cena é bonita, é
grande e estonteante, com muitos entulhos (que me lembraram “Feios, sujos e
malvados”), muitas pessoas e, finalmente, a vitória do povo francês.
Muito da minha antipatia
pelo filme, eu acho, que se deu pelo fato de eu não ir preparada para vê-lo.
Como eu não sou fã de musicais (mas eu sabia que o filme era um musical) e na
verdade nós fomos ao cinema para ver “Django Livre” (pasmem só tinha du-bla-do!),
acho que não estávamos totalmente no clima. O filme talvez não seja tão fácil
de ver (umas 4 pessoas desistiram no meio e foram embora do cinema), mas com
certeza merece ser visto.
Os miseráveis (Les
miserables, Reino Unido, 2012) ***
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