sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

32° - "A sangue frio"


Bem, hoje este bloguinho faz um mês, quem diria! Um mês com publicações diárias e acho que seria interessante tecer algumas considerações: 
1) o número de visitas (de comentários nem se fala) do blog é proporcional à minha divulgação; eu falei sobre o blog com pouquíssimas pessoas, só com aquelas que eu sei que gostam de cinema e que gostam de mim (risos). Isso porque o objetivo de eu ter criado este blog está muito longe de ganhar popularidade. Escrever aqui é um projeto pessoal, e que até agora tem me deixado muito feliz. Eu me imagino daqui a vários anos lendo o que escrevi, o que pensava, ou então, se tiver um filho quem sabe, que ele me leia, não é uma ideia bacana? Enfim, sonhos de uma pisciana;
2) Eu descobri, jogando no google o nome do blog, que este meu projeto está bem longe de ser original, várias pessoas, vários blogueiros já se propuseram a fazer sua lista dos 365 filmes, um por dia, humpf, mas pelo que vi, apenas um concluiu com êxito sua jornada, muitos ficaram pelo meio do caminho. No início eu colocava no google '365 filmes em 2013' e ele nem aparecia, agora está na terceira página!;
3) Escrever diariamente, claro, está mais difícil do que eu imaginava. Isto porque tem dia que eu não estou com vontade, estou cansada, trabalhei muito ou estudei muito e ainda tenho que vir aqui, pesquisar sobre o filme, escrever, revisar, inserir fotos e etc, o que me toma, pelo menos, uma hora por dia (que antes era dedicada à minha malhação e terei que pensar como resolver isso em breve);
4) Minha proposta é escrever sobre filmes que eu gosto e que eu indicaria, e eu tenho uma lista enorme de filmes para citar aqui, só que, eu fui percebendo no decorrer dos dias, que para escrever eu teria que rever os filmes, contar somente com minha memória (que já não é lá grande coisas) não seria suficiente, e isso tem tomado ainda mais tempo. Eu procuro ver os filmes no fim de semana, mas também vejo durante a semana, é tranquilo, é só cortar as novelas e seriados que dá;
5) Escrever era penoso no início, mas tem se tornado mais fácil. Isso porque, como tudo na vida, a gente vai pegando jeito com a prática. Se no início eu demorava bastante para pensar sobre o que escrever, agora, sem esforço, enquanto eu vejo um filme as frases e o que escrever já estão na minha cabeça. Eu sempre falei isso para meus alunos, escrever é hábito, quanto mais se lê e se escreve mais fácil fica (não necessariamente melhor, mas é a tendência);


Já que estou comemorando hoje eu deveria falar aqui de algum filme que figure na minha lista de prediletos (tipo top 20 ou algo do tipo), mas acontece que estou engajada no projeto "Truman Capote" e não faz sentido interrompê-lo agora. O filme que vou falar hoje, se não fosse o projeto, é bem provável que não estaria neste blog porque o filme, em si, não é bom. Eu fico pensando no tamanho da influência do Capote, que pegou uma história (terrível, mas que provavelmente ficaria reclusa aos jornais e reportagens policiais) e a transformou em um dos maiores casos de assassinato dos EUA. A história da história – Capote escrevendo sobre a história dos assassinatos dos Cuttlers em seu livro “A sangue frio” – rendeu dois filmes, e pelo que pesquisei seu livro rendeu mais dois filmes com o mesmo nome do livro. O primeiro filme data de 1967 (apenas dois anos depois do livro), mas não o encontrei nas locadoras de Juiz de Fora, apenas no youtube sem legenda, eu vi umas partes e parece bem melhor do que o filme que falarei aqui. O segundo “A sangue frio” é de 1996, e como diz o Digo, a gente nunca deve confiar num filme que tem o Eric Roberts como chamariz.
Vejo só “convite irrecusável para os fãs de um policial de qualidade, este filme traz atores e diretor consagrados. [...] As cenas não poupam o espectador de muita ação e tensão. Pedida certa para quem acha que já viu tudo no gênero. Este irá surpreendê-lo”. Isto é a informação que está na contra-capa do filme (junto com uma foto de Eric Roberts com dor de barriga, não resisti), meio pretensioso, não?! Ontem eu falei sobre “O Sol é para todos” e como o filme é longo, certo? Esqueça isso, colega, “A sangue” tem 3 horas de duração, dá pra dividir em 3 partes (eu vi em pedaços, não deu pra ver direto).
Mas o que mais me chamou atenção, e foi por isso que eu vi partes do primeiro “A sangue” (não tive tempo de vê-lo todo), é como Capote resolveu contar o primeiro “romance de não-ficção”; é claro que o mais satisfatório aqui seria ler o livro (ele está na lista), mas este blog é sobre filmes. Como os livros são baseados na obra de Truman Capote e isto fica claro no início de ambos os filmes, eu acho que posso tirar algumas conclusões.
A primeira delas é que o Perry Smith de Capote é um homem perturbado, fica claro que o enfoque está nele. Ele oscila tendo momentos de tranqüilidade, sendo um homem cortês, educado e amável, com outros de pura loucura, no qual lembra momentos de seu passado e se torna muito violento, enfim, não é uma personalidade fácil de decifrar e nem de julgar, ao contrário de Dick que é um babaca e pronto. E apesar de cuidar da família Clutter para que eles fiquem confortavelmente amarrados (?!) e não permite que Dick violente a meninas, é Perry que mata toda a família (inclusive corta a garganta do pai), se bem que a gente não sabe se isso é verdade ou se Perry assume a culpa para consolar a mãe de Dick...
Passar a primeira das 3 horas do filme entendendo como a família Clutter vivia é uma boa saída (apesar de muito longa), porque a gente realmente entende o estrago de um crime tão sem sentido. Os Cuttler eram amados na pequena sociedade que viviam (e Capote deixa claro, em Confidencial, que seu objetivo é escrever sobre como um crime bárbaro afeta a confiança da pequena população), o pai seria indicado a metodista do ano, a menina era referência para outras meninas, mas tinham uma mãe perturbada (será que ela já pressentia os acontecimentos traumáticos?! ). E acho que tudo isso funciona no filme, pois quando os bandidos entram na casa a procura de um cofre que não existe e por isso matam toda a família, a gente sente o absurdo deste crime.
Outra coisa que achei muito interessante é que, como Capote não está no filme, e vendo os outros dois, fica claro que o detetive Dewey é o próprio Capote, é ele que se compadece de Perry e o visita até o fim. É para ele que Perry fala, na hora do enforcamento, o final que Capote gostaria, pede perdão pelo que fez.
Assim como em “O Sol é para todos” assistir “A sangue frio” só me deixou foi com vontade de ler o livro e de entender realmente como Capote (sem outros filtros) percebeu toda história e a escreveu.
A sangue frio (In Cold Blood, EUA, 1996) **

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