Depois de ver dois filmes
sobre Truman Capote eu fiquei com muita vontade de ver outros filmes que são
citados. Sendo assim, ontem eu tive a oportunidade de ver "O Sol é para
todos" baseado no livro famoso e premiado de Harper Lee, amiga de Capote,
que em "Capote" aparece, mas no início eu até achei que fosse sua
empresária, mas em "Confidencial" é interpretada por Sandra Bullock e
tem um papel com maior destaque. Ambas são ótimas, mas a Harper de Bullock é
uma graça, afetuosa e inteligente, não é fútil como as outras amigas
de Truman e fica claro que eles têm uma amizade duradoura, de muitos anos. Em
"Capote", há a cena do lançamento de "O Sol é para todos",
inclusive é uma cena na qual o Truman de Philip Seymour Hoffman já está abatido e
dramático, e foi esse filme que aparece no lançamento que eu tive a
oportunidade de ver.
"O Sol", vencedor do Oscar, é de 1962, é preto e branco, e como de costume
para filmes antigos é longo, eu não sei se é nossa cultura "fast-food", mas é perceptível que algo ligado ao time (vou chamar assim por falta de
conhecimento de algum termo técnico) do filme mudou muito, por mais que o filme
nem seja tão longo assim (são 2 horas e 10 minutos) eu cortaria facilmente uma
meia hora. A primeira hora do filme é meio arrastada, procurando mostrar a
relação das crianças numa cidade que é também sem atrativos (como a própria
narradora fala no início).
Mas
vamos à sinopse: aqui também há outro engano, na capa do filme e até na
internet a sinopse é sobre um negro que foi condenado injustamente por estuprar
uma branca e Atticus Finch (Gregory Peck) é o único advogado disposto a
ajudá-lo. Lendo isso a impressão que dá é que "O Sol" é um daqueles
filmes de tribunais no qual há um sofrimento e angústia e depois o júbilo pela
vitória, certo? Não, errado. É claro que há toda essa história do preconceito
horroroso de uma cidadezinha do sul dos EUA nos anos 1930, mas essa história é
triste, é injusta, ver ser condenado um homem apenas por ser negro (não há
provas nenhuma, apenas uma palavra contra outra) é de doer o coração.
Acontece
que "O Sol" está mais focado nas crianças do que na história do
julgamento em si. O filme mostra a vida de Jem e Spout, filhos
de Atticus, além de seu amigo Dill (parece que ele foi inspirado em
Truman) e como as crianças se relacionam na cidade, com seu vizinho
aparentemente maluco, com a história de injustiça, entre eles, com seu pai.
Aliás, que pai, viu?! Quem não gostaria de ter um pai
como Atticus (Gregory Peck inclusive ganhou o Oscar por sua atuação),
um homem honesto, reto (gostei na cena, ao final do julgamento, no qual todos
os negros - que estavam segregados, isolados na parte de cima do tribunal - se
levantam e Atticus é incapaz de olhar, de se vangloriar), pai
solteiro e ao mesmo tempo afetuoso, amoroso e carinhoso com os filhos.
E é interessante perceber
a relação dos filhos com a situação empregada, as crianças não são racistas
(mais uma vez lembro da cena do tribunal, onde os negros, separados dos brancos
que sentam em local privilegiado, e os únicos brancos são as crianças), seja
pelo exemplo do pai, seja simplesmente porque o racismo, como qualquer tipo de
preconceito, é algo cultural, que é aprendido, não é nato. E o filme é bonito
porque mostra essas delicadezas típicas das relações humanas.
Eu gosto também do título
em português “O Sol é para todos”, acho que a ideia é boa, apesar de tão
diferente do título em inglês (To kill a
Mockingbird). Entretanto, apesar de bacana, em vários momentos do filme eu
fiquei com vontade mesmo é de ler o livro, e pela importância histórica do
filme e do livro na descrição de um momento histórico tão delicado, é o filme que
eu indico hoje.
O Sol é para todos (To
kill a Mockingbird, EUA, 1962) ***
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