quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

31° - " O Sol é para todos"


Depois de ver dois filmes sobre Truman Capote eu fiquei com muita vontade de ver outros filmes que são citados. Sendo assim, ontem eu tive a oportunidade de ver "O Sol é para todos" baseado no livro famoso e premiado de Harper Lee, amiga de Capote, que em "Capote" aparece, mas no início eu até achei que fosse sua empresária, mas em "Confidencial" é interpretada por Sandra Bullock e tem um papel com maior destaque. Ambas são ótimas, mas a Harper de Bullock é uma graça, afetuosa e inteligente, não é fútil como as outras amigas de Truman e fica claro que eles têm uma amizade duradoura, de muitos anos. Em "Capote", há a cena do lançamento de "O Sol é para todos", inclusive é uma cena na qual o Truman de Philip Seymour Hoffman já está abatido e dramático, e foi esse filme que aparece no lançamento que eu tive a oportunidade de ver.
"O Sol", vencedor do Oscar, é de 1962, é preto e branco, e como de costume para filmes antigos é longo, eu não sei se é nossa cultura "fast-food", mas é perceptível que algo ligado ao time (vou chamar assim por falta de conhecimento de algum termo técnico) do filme mudou muito, por mais que o filme nem seja tão longo assim (são 2 horas e 10 minutos) eu cortaria facilmente uma meia hora. A primeira hora do filme é meio arrastada, procurando mostrar a relação das crianças numa cidade que é também sem atrativos (como a própria narradora fala no início).
Mas vamos à sinopse: aqui também há outro engano, na capa do filme e até na internet a sinopse é sobre um negro que foi condenado injustamente por estuprar uma branca e Atticus Finch (Gregory Peck) é o único advogado disposto a ajudá-lo. Lendo isso a impressão que dá é que "O Sol" é um daqueles filmes de tribunais no qual há um sofrimento e angústia e depois o júbilo pela vitória, certo? Não, errado. É claro que há toda essa história do preconceito horroroso de uma cidadezinha do sul dos EUA nos anos 1930, mas essa história é triste, é injusta, ver ser condenado um homem apenas por ser negro (não há provas nenhuma, apenas uma palavra contra outra) é de doer o coração. 
Acontece que "O Sol" está mais focado nas crianças do que na história do julgamento em si. O filme mostra a vida de Jem e Spout, filhos de Atticus, além de seu amigo Dill (parece que ele foi inspirado em Truman) e como as crianças se relacionam na cidade, com seu vizinho aparentemente maluco, com a história de injustiça, entre eles, com seu pai. Aliás, que pai, viu?! Quem não gostaria de ter um pai como Atticus (Gregory Peck inclusive ganhou o Oscar por sua atuação), um homem honesto, reto (gostei na cena, ao final do julgamento, no qual todos os negros - que estavam segregados, isolados na parte de cima do tribunal - se levantam e Atticus é incapaz de olhar, de se vangloriar), pai solteiro e ao mesmo tempo afetuoso, amoroso e carinhoso com os filhos.
E é interessante perceber a relação dos filhos com a situação empregada, as crianças não são racistas (mais uma vez lembro da cena do tribunal, onde os negros, separados dos brancos que sentam em local privilegiado, e os únicos brancos são as crianças), seja pelo exemplo do pai, seja simplesmente porque o racismo, como qualquer tipo de preconceito, é algo cultural, que é aprendido, não é nato. E o filme é bonito porque mostra essas delicadezas típicas das relações humanas.  
Eu gosto também do título em português “O Sol é para todos”, acho que a ideia é boa, apesar de tão diferente do título em inglês (To kill a Mockingbird). Entretanto, apesar de bacana, em vários momentos do filme eu fiquei com vontade mesmo é de ler o livro, e pela importância histórica do filme e do livro na descrição de um momento histórico tão delicado, é o filme que eu indico hoje.
O Sol é para todos (To kill a Mockingbird, EUA, 1962) ***

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