David Lynch não é pra
qualquer um (e sinceramente nem sempre é pra mim), não quero dizer com isso que
quem gosta dele é cult e quem não gosta inferior porque não gosta de cinema e
aquele blábláblá alternativo clichê. É só que ele é polêmico, não faz aquele
filme redondinho e por isso nem sempre agrada a todos. Dificilmente quem está
acostumada a um único tipo de filme, reto, com início meio e fim, vai ter
dificuldade para se acostumar com seu cinema.
Mas
ainda assim eu o recomendo, acho que todos devem assistir, odiar ou amar, mas
perceber a diversidade que o cinema nos apresenta, as maravilhas de ver que
cada diretor pode nos mostrar sua maneira de enxergar o mundo, ou simplesmente
uma história. Diga aí, você vai ficar a vida toda vendo tudo da mesma maneira?
Falo não só pelo cinema, mas pela vida e eu sempre vou optar por ser uma
metamorfose ambulante.
Sendo
assim "Veludo Azul" é um filme psicodélico, no qual Lynch opta por
mostrar um viés do ser humano difícil de encarar, mas tirando isso o filme até
que é caretinha, com início, meio e fim (o que pra mim já é lucro, estou
cansada de ver filme sem final...) e é muito mais tranquilo de ver que
"Cidade dos Sonhos", este sim alucinação purinha.
E
o que Lynch nos propõe a perceber em "Veludo" é que nem sempre o
que parece é, a cena inicial, linda, mostrando flores belas, um cachorro
bonito, as pessoas indo trabalhar e estudar funcionando em total harmonia e, de
repente, quando a câmera resolve ir mais fundo, ela nos mostra uma cena meio
nojenta de vários insetos embaixo da grama, numa ideia de que de perto ninguém
é normal, de que as aparências enganam e que sempre há sujeira embaixo do tapete.
Saber disso é libertador, que não há controle e perfeição, entretanto o filme
vai bruscamente para o outro lado da força, rs, mostrando a podridão
enlouquecedora de pessoas e lugares.
Vamos à sinopse: após
visitar no hospital seu pai que sofreu um derrame, Jeffrey Beaumont (Kyle
MacLachlan, o primeiro marido da Charlotte em Sex and the City), no caminho,
encontra uma orelha humana e a entrega a um policial que é também seu vizinho.
Mais tarde ele encontra a filha deste policial (Sandy, interpretada por Laura
Dern) que lhe dá detalhes do caso, cita o nome de Dorothy (Isabella Rossellini) e diz ser ela o elo
do caso. Jeffrey decide então investigar o caso sozinho se envolvendo com Sandy
e Dorothy e conhecendo Frank (Dennis Hopper) um traficante muito mal e muito
doido. Porém Jeffrey com toda sua juventude, inocência e paixão tenta
solucionar o caso e ajuda Dorothy (cujos marido e filho estão sequestrado por
Frank).
A sinopse descreve o
filme com o suspense que ele tem, mas há cenas insanas, violência e
comportamentos doentios. A cena que Frank estupra Dorothy (ela não resiste,
pois ele sequestrou sua família) é surreal, acho que a cena mais alucinante que
eu já vi.
Além de mostrar a falácia
de uma cidade que aparenta ser perfeita (li que o objetivo de Lynch é uma
crítica à sociedade americana), ainda há
as tonalidades de azul que aparecem, no início o azul claro do céu, para os
azuis mais escuros em cenas obscuras. E também tem Isabella Rossellini, numa
tristeza misturada com doidera de dar dó, e neste blue que mistura cores e tristeza que o filme cumpre seu papel.
Veludo Azul (Blue Velvet,
EUA, 1986) ***
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