Ontem eu vi pela primeira
vez "Conduzindo Miss Daisy" e, assim, é um filme bacana. Ganhador de
3 Oscars - incluindo melhor filme - penso que, em 1989 quando ele foi lançado,
realmente deveria ser uma inovação tratar de um tema cabeludo que é a
discriminação e segregação racial nos anos 40-50 nos EUA e é tocante ver as
cenas que tratam deste ponto, como a de Hoke precisando ir ao banheiro e tendo
que parar na estrada, pois por ser negro não pode usar o banheiro do posto de
gasolina. E é então um filme delicado sobre amizade e relações humanas.
Acontece que eu vi recentemente "Histórias Cruzadas" e poxa, esse sim
é um filme pedrada sobre o racismo, filme lindo que eu quero comentar em breve.
Acho
que o que me incomodou mesmo é que Miss Daisy (Jessica Tandy) é uma senhorinha
muito, muito difícil e eu achei que ela ia baixar a guarda no decorrer do
filme. Tudo bem que há uma cena linda na qual ela fala para Hoke (Morgan Freeman)
que ele é seu melhor amigo, mas eu fiquei com a impressão de que ele só é seu
melhor amigo porque é o único. Ela é muito difícil, e apesar de se dizer não preconceituosa,
fica claro que ela se sente superior, humpf!
Mas
o filme tem seus méritos, tem a linda atuação de Jessica Tandy e Morgan Freeman,
eles estão fantásticos. E a história - que é sobre uma senhora independente que
não consegue mais dirigir, mas tem que aceitar a presença do motorista contratado
pelo filho - tem a passagem do tempo de uma das maneiras mais bonitas que eu vi
no cinema, geralmente de forma sutil, em pequenos detalhes (como quando Daisy
entrega a Hoke um livro e ele lê o título com naturalidade, o que pressupõe que
ela o ensinou a ler). E tem cenas bem-humoradas, quando Miss Daisy está
injuriada de ter que passar o natal na casa do filho e da nora, que não poupa
na decoração de natal, e Daisy dá a Hoke um presente, mas que não é de natal,
pois ela é judia!
Eu
fiquei muito sensibilizada com o papel de Freeman, o personagem Hoke, um senhor
bem-humorado e gentil, e acho que por isso eu acreditei que ele merecia um
pouco mais de carinho. De qualquer modo, sei que tenho que relativizar e pensar
que, em 1948, a amizade de uma branca com um negro era algo impensado. Horrível
saber que foi verdade, não?!
E
acho também que o final do filme é incrível, que a quantidade de significados
que tem na cena final vale mais do que as palavras e é pensando nesta cena que
percebi como o filme se articulou de maneira delicada, mostrando o
desenvolvimento desta relação, e esta sutileza toda durante um filme que trata de
temas tão complicados é o que me faz indicá-lo hoje.
"A História terá de
registrar que a maior tragédia deste período de transição social não foram as
palavras ácidas e as ações violentas das pessoas más, mas o assombroso silêncio
e indiferença das pessoas boas" (Martin Luther King)
Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy,
EUA, 1989) ***
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