sábado, 26 de janeiro de 2013

26° - "Festim Diabólico"


Estava hoje num dia meio deprê e resolvi ver "Festim Diabólico" do Hitchcock, o que melhorou totalmente meu astral, o filme é incrível e tem várias referências. Enquanto eu via lembrei de "Deus da Carnificina" (2011) porque é também um filme cujo cenário todo se desenvolve dentro de um apartamento; "O Sonho de Cassandra" (Woody Allen, 2007), até "A Onda" (2008) e sabe-se lá quantos filmes mais podem ter se inspirado nesta película de 1948 e que fogem ao meu humilde conhecimento.
A história que se desenrola toda no apartamento de Brandon é sobre dois amigos (Brandon e Philip) que resolvem cometer o que consideram um crime perfeito; então matam o amigo David e escondem seu corpo num baú da sala de estar do apartamento. Acontece que o plano é um pouco mais elaborado, Brandon e sua psicopatia e complexo de Deus, resolve fazer uma festa, convidando os pais, namorada e amigos de David e usando o baú como aparador para a festa (apoio para os pratos e comida). Pronto, cenário perfeito para bastante suspense, isso porque apesar de Brandon ser um psicopata - ele não tem nenhum sentimento de culpa e nenhuma empatia por ninguém a não ser por ele - Philip, que aparentemente é um cara fraco e foi induzido por Brandon, sente um remorso arrebatador após o assassinato e por isso dá pistas de que algo não vai bem durante a festa. 
Neste jogo de comportamentos, Hitchcock traça um filme tenso, tanto na movimentação da câmera (o que ela quer mostrar ou não, aumentando o suspense) quanto nos diálogos; e com isso constrói personagens densos. A ideia de que Brandon utiliza dos discursos de Rupert para justificar seu ato lembra (inclusive no filme) Hitler e Nietzsche. E nas possibilidades de interpretação que cada um tem, vale a pena pensar antes de dizer e panfletar (“A Onda”). Eu não acredito muito no que as pessoas adoram dizer: “eu sou responsável pelo que eu falo, não pelo que você entende”, essa frase me parece meio condescendente. É claro que somos responsáveis pelo que e como falamos. Obviamente que uma mente leviana – como a de Brandon – pode enxergar o que quiser e da forma que quiser. Para Brandon existe algumas pessoas com superioridade intelectual e cultural que estão acima dos conceitos morais, sendo que os conceitos de bem e mal, certo e errado foram inventados para o homem comum, o homem inferior. Ora essa, quantas vezes vemos esse discurso reproduzido em nossa volta, seja nas ditaduras, nos preconceitos, nos discursos de superioridade...
O filme, cujo nome em português é muito melhor do que o original (coisa rara), ainda tem um final arrebatador, mais ou menos assim:
“Brandon, até este exato momento, este mundo e as pessoas que nele vivem sempre foram obscuras e incompreensíveis para mim. Tentei iluminar meu caminho com a lógica e o intelecto superior. E jogou minhas palavras na minha cara. Era seu direito. Um homem deve cumprir o que diz. Mas deu às minhas palavras um significado que jamais imaginei e tentou distorcê-las numa desculpa cruel e lógica para seu assassinato horroroso. Nunca foram assim, Brandon. E não pode torná-las assim. Deve haver algo no seu íntimo, desde o início, que permitiu que fizesse isso. Mas há algo dentro de mim que jamais me permitiria fazê-lo e nunca me deixaria fazer parte disto. Esta noite fez-me envergonhar dos conceitos que sempre tive dos seres superiores ou inferiores. E lhe agradeço por essa vergonha” Rupert.
Festim Diabólico (Rope, EUA, 1948) ****

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