"Nossa relação com
pessoas consiste em discutir com elas e criticá-las. Foi isso que me afastou,
por vontade própria, de toda minha vida social. Isso tornou minha velhice
solitária" (Isak)
Coincidência
demais eu ter visto "Morangos Silvestre" logo depois de
"Confissões de Schmidt" porque eles são muito parecidos. Tudo bem que
"Confissões" deve ter se baseado no clássico de Bergman, se bem que
eu ainda não li nada sobre isso... Mas vejam se eu não tenho razão:
"Morangos Silvestres" narra a história do professor de medicina Isak
Borg, um senhor de 78 anos que receberá uma honraria em sua antiga
universidade. Como Isak tem um sonho estranho, que mistura tempo e morte, ele
resolve pensar em sua vida, e por isso ao invés de ir de avião resolve ir de
carro à cidade onde receberá a homenagem.
Sua
nora, Marianne, resolve ir com ele e é durante a viagem que ele recordará os
momentos de sua juventude e seu passado que fizeram dele um homem egoísta e amargo.
É claro que a viagem o transforma, aliás, desde que vi o filme ando pensando
como o cinema usa a estrada como agente de transformação, como as viagens são
ilustradas como libertação e por isso auxiliam no processo de descoberta do eu,
do sentido da vida, e etc. E assim como Schmidt, Isak vai fundo em seus
diálogos e em suas reflexões. Bergman meche com a gente, então ele faz pensar
em morte e vida, em relacionamentos e em como coisas do passado podem ser
carregadas pela vida. Há um diálogo forte e visceral, quando sua nora conta-lhe
que saiu de casa porque engravidou do marido e ele não quer ter filhos, não tem
esperanças na vida, apenas na morte, é doído. Sugere que a mulher aborte, já
que não quer de modo algum trazer uma criança ao mundo.
Ambos
os filmes falam sobre a solidão, Isak chega a dizer que está morto, apesar de
vivo. E assim como "Confissões", "Morangos" é um road
movie, onde no caminho percorrido, realidade, sonho e memória se entrelaçam.
Neste caminho Isak dá carona a um trio de jovens e a um casal e todos o fazem
recordar seu passado, ora como jovem desiludido no amor, ora como marido de um
casamento infeliz.
E é neste caminho que
Isak enfrenta seu passado e seu presente, suas memórias e sua realidade.
Interessante como o filme lembrou-me meu avô, ele também tem esses rompantes de
lembrar sua infância, tem conversas longas onde passa horas descrevendo seu
passado, nos mínimos detalhes. Isak termina sua reflexão percebendo que sua paz
está lá, em seu passado, e que seus momentos de tristeza e solidão são
compensados com suas lembranças.
Além de
"Confissões", há outro filme muito próximo à "Morangos" que
é "Desconstruindo Harry" do Woody Allen, mas esse fica pra amanhã...
Morangos Silvestres
(Smultronstallet, Suécia, 1957) ****
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