Eu me lembro de
"Capote" estar na minha lista de “filmes a serem vistos” há alguns
anos, inclusive eu me lembro de já ter pegado e devolvido à locadora sem
assistir, e eu me pergunto, por quê? Acho que, no meu inconsciente, por tantas
vezes entrar nas lojas Americanas e ver a quantidade de filmes
"Capote" para vender, ficou na minha cabeça "o filme é ruim, é
cansativo". Enfim, inconsciências a parte, é uma pena que eu tenha
demorado tanto tempo para ver, embora talvez, na época na qual o filme figurava
na minha lista de filmes a conferir eu não tivesse dado muita atenção a ele. É
que eu penso, e já tive a oportunidade de dizer aqui, que assistir a filmes é
sempre uma experiência individual, que dependendo do seu dia, da sua
maturidade, do seu humor, o filme vai chegar à você de uma maneira. E isso é
interessante pra caramba, até para pensar que, se você assistir pela segunda
vez um filme visto há tempos você pode ter uma outra experiência, negativa ou
positiva.
Ver
"Capote" é uma experiência de sensibilidade, grande parte graças a
atuação de Philop Seymour Hoffman, ele está incrível, não só nos jeitos e
trejeitos de Truman Capote (e confesso minha ignorância, eu não conhecia sua
importância na literatura até ver o filme e pesquisar sobre ele), mas na
delicadeza que ele passa do Capote brincalhão, orgulhoso (até um pouco
arrogante), empolgado e esperançoso para outro Capote sofrido, desiludido, até
culpado. Essa passagem é bem sutil no filme que mostra parte importante da vida
de Capote. O filme, que é biográfico, fala de parte da vida de Capote: começa
quando ele lê no jornal sobre um assassinato de 4 integrantes de uma família
numa cidadezinha no Kansas. Ele então resolve ir à cidade investigar e escrever
uma reportagem sobre o caso. Acontece que lá ele entende que tem material
suficiente para um livro, não apenas uma reportagem, principalmente depois que
conhece os 2 assassinos, em especial Perry Smith (Clifton Collins Jr.).
Inicialmente Capote vê a oportunidade de escrever o livro como um desafio, já
que acredita que ele revolucionará a literatura, e o escritor quer defender a
ideia que nas mãos do escritor certo uma história verídica pode ser tão
interessante quanto a de ficção.
O
filme deixa claro que o livro produzido por Capote "A Sangue Frio"
que também virou filme, é o grande sucesso do autor e teve muita repercussão.
Acontece que o envolvimento do escritor para a escrita (que durou cerca de 5
anos) e principalmente com Perry é perturbador para Capote. Quais os limites
éticos para um trabalho investigativo? O que vale fazer para se obter uma
informação? Um assassino a sangue frio merece consideração? Merece esperança? A
esperança oferecida por Capote foi motivada por algum tipo de afeto ou apenas circunstancial?
O próprio Capote não consegue compreender, principalmente depois que Perry
finalmente descreve a noite do crime, e vive então atormentado em seus
conflitos de interesse e na (des)humanidade de seus atos.
O
namorado de Capote, a certa altura do filme fala: "só tenha cuidado com o que faz para conseguir o que quer" e creio se
essa a grande questão, quais são os limites e principalmente os nossos limites, pois depois que os
atravessamos é provável que o fardo a carregar seja muito pesado.
O
filme é dramático neste final, mas ainda assim é sensacional. Junto com
"Capote" eu peguei "Confidencial", filme lançado um ano
depois e com a mesma sinopse (?). Contudo minhas impressões sobre
"Confissões" eu vou deixar para amanhã.
Capote (Capote, EUA, Canadá,
2005) ****
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