terça-feira, 29 de janeiro de 2013

29° - "Capote"


Eu me lembro de "Capote" estar na minha lista de “filmes a serem vistos” há alguns anos, inclusive eu me lembro de já ter pegado e devolvido à locadora sem assistir, e eu me pergunto, por quê? Acho que, no meu inconsciente, por tantas vezes entrar nas lojas Americanas e ver a quantidade de filmes "Capote" para vender, ficou na minha cabeça "o filme é ruim, é cansativo". Enfim, inconsciências a parte, é uma pena que eu tenha demorado tanto tempo para ver, embora talvez, na época na qual o filme figurava na minha lista de filmes a conferir eu não tivesse dado muita atenção a ele. É que eu penso, e já tive a oportunidade de dizer aqui, que assistir a filmes é sempre uma experiência individual, que dependendo do seu dia, da sua maturidade, do seu humor, o filme vai chegar à você de uma maneira. E isso é interessante pra caramba, até para pensar que, se você assistir pela segunda vez um filme visto há tempos você pode ter uma outra experiência, negativa ou positiva.
Ver "Capote" é uma experiência de sensibilidade, grande parte graças a atuação de Philop Seymour Hoffman, ele está incrível, não só nos jeitos e trejeitos de Truman Capote (e confesso minha ignorância, eu não conhecia sua importância na literatura até ver o filme e pesquisar sobre ele), mas na delicadeza que ele passa do Capote brincalhão, orgulhoso (até um pouco arrogante), empolgado e esperançoso para outro Capote sofrido, desiludido, até culpado. Essa passagem é bem sutil no filme que mostra parte importante da vida de Capote. O filme, que é biográfico, fala de parte da vida de Capote: começa quando ele lê no jornal sobre um assassinato de 4 integrantes de uma família numa cidadezinha no Kansas. Ele então resolve ir à cidade investigar e escrever uma reportagem sobre o caso. Acontece que lá ele entende que tem material suficiente para um livro, não apenas uma reportagem, principalmente depois que conhece os 2 assassinos, em especial Perry Smith (Clifton Collins Jr.). Inicialmente Capote vê a oportunidade de escrever o livro como um desafio, já que acredita que ele revolucionará a literatura, e o escritor quer defender a ideia que nas mãos do escritor certo uma história verídica pode ser tão interessante quanto a de ficção. 
O filme deixa claro que o livro produzido por Capote "A Sangue Frio" que também virou filme, é o grande sucesso do autor e teve muita repercussão. Acontece que o envolvimento do escritor para a escrita (que durou cerca de 5 anos) e principalmente com Perry é perturbador para Capote. Quais os limites éticos para um trabalho investigativo? O que vale fazer para se obter uma informação? Um assassino a sangue frio merece consideração? Merece esperança? A esperança oferecida por Capote foi motivada por algum tipo de afeto ou apenas circunstancial? O próprio Capote não consegue compreender, principalmente depois que Perry finalmente descreve a noite do crime, e vive então atormentado em seus conflitos de interesse e na (des)humanidade de seus atos.
O namorado de Capote, a certa altura do filme fala: "só tenha cuidado com o que faz para conseguir o que quer" e creio se essa a grande questão, quais são os limites e principalmente os nossos limites, pois depois que os atravessamos é provável que o fardo a carregar seja muito pesado.
O filme é dramático neste final, mas ainda assim é sensacional. Junto com "Capote" eu peguei "Confidencial", filme lançado um ano depois e com a mesma sinopse (?). Contudo minhas impressões sobre "Confissões" eu vou deixar para amanhã.
Capote (Capote, EUA, Canadá, 2005) ****

Nenhum comentário:

Postar um comentário