"As Bicicletas de
Belleville" é pura psicodelia. Não o assista procurando por lógica,
enredos lineares, diálogos, formas e desenhos convencionais; nele tudo é
diferente e por isso tão interessante. Não é um filme convencional, os desenhos
desta animação não são proporcionais e nem retratam pessoas bonitas, mas ao
mesmo tempo é tudo lindo, é tudo poético.

Narra
a história de um garoto que perdeu os pais quando criança, é criado pela avó
que tenta tirá-lo da tristeza de qualquer forma, ela tenta o piano, tenta um
cachorro (Bruno), tenta um trenzinho, até que finalmente descobre que a única
paixão do menino é por bicicletas. Ele cresce, sua avó continua o estimulando,
treinando com ele, e no dia que ele participa do Tour de France é capturado e
enviado à Belleville (há uma referência à estátua da liberdade lá) junto com
outros 2 ciclistas, para servir clandestinamente como competidores numa corrida
de bicicleta numa espécie de Tour de France caseiro, com mafiosos como
apostadores, quase uma rinha de galos. Mas esqueça o menino, sua paixão é mesmo
por pedalar, ele é apático no filme, passa despercebido. Os protagonistas aqui
são a avó do menino (ela e linda!) e Bruno (o cachorro), eles vão pedalando (!)
num pedalinho atrás do navio que carrega os sequestrados e passam bons bocados
em Belleville para conseguir resgatar o garoto. Três senhoras (que são músicas,
já foram famosas no passado), dão abrigo e comida e ainda a ajudam a resgatar o
neto. São 4 senhorinhas e um cachorro contra a máfia francesa, (são as
bicicletas contra os carros) e os primeiros saem vitoriosos.
Então
assim, um filme que coloca 4 senhoras como heroínas merece meu apreço, não é
verdade? O filme me parece uma ode aos avós, eu tenho a sorte de ter dois (um
avô e uma avó casados há mais de 50 anos) e é uma delícia ser neta e receber o
amor e carinho de um vô ou uma vó, sou muito grata a eles e tenho muito amor
também. E a avó do filme é uma lindeza, ela vive para deixar seu neto feliz
(aliás no filme fica claro que ele vive graças a ela), ela acredita piamente em
seus sonhos e nele.

O
filme usa como fundo o crescimento urbano desordenado e critica as grandes
cidades que marginalizam os pobres (o lugar onde as senhoras trigêmeas, que já
foram famosas, mora é horrível e elas comem rãs a todo momento, no almoço e
sobremesa) centraliza os ricos, ainda mostra as construções irregulares,
crescimento desmedido, poluição visual e sonora. O diretor associa este modo de
vida à obesidade, no cachorro e até na estátua da liberdade de Belleville que é
obesa e segura um sorvete, o que achei desnecessário.
É
uma animação diferente, no visual, na audição, nas formas, nas personagens e
por isso é minha indicação de hoje!
As Bicicletas de
Belleville (Les Triplettes de Belleville, Reino Unido, Letônia, França,
Bélgica, Canadá, 2002) ***
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