quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

16° - "Zelig"



Bem, como ontem eu falei sobre a minha paixão por Woody Allen - ele é meu diretor favorito - nada mais justo que comentar hoje um filme dele. Eu gosto muito do Woody, mas não me lembro como minha predileção por ele começou. Embora eu seja fanzoca dele, tem filmes que amo, outros gosto muito e outros simplesmente gosto. Todos dizem que ele inaugurou uma nova fase a partir de Match Point, e eu acho incrível nele essa capacidade de mudança, mas eu gosto de seus filmes antigos e gosto de seus filmes que são considerados sua pior fase (de 2000 até 2005), eu adoro "Trapaceiros", "O Escorpião de Jade", "Dirigindo no Escuro" e "Melinda e Melinda".
Woody não é bom ator, pois sempre interpreta ele mesmo em seus filmes, e isso pode parecer repetitivo, mas incrivelmente não é. Eu gosto muito do seu tipo, um nova-iorquino neurótico, frustrado, um judeu quase ateu, é hilário! Por curiosidade fiz umas contas por aqui e percebi que, dos seus 50 filmes eu vi quase 40, o que me permite comentar um por semana neste projeto do blog. O que eu mais gosto em seus filmes é que ele consegue pegar uma característica da sociedade e colocá-la em close up. Dificilmente você será convencido a ver seus filmes pela sinopse, porque muitas vezes eles não estão preocupados com finais surpreendentes e tramas muito bem amarradas, mas sim com diálogos interessantes, inteligentes, e são nestas sutilezas que ele sempre me ganha.
O filme que gostaria de falar hoje está, certamente, no topo dos meus preferidos. Em "Zelig" Woody coloca em evidência a construção de identidades culturais, apresentando a história do camaleão humano. O filme - de 1983, ano do meu nascimento - é apresentado como se fosse um documentário da vida de Leonard Zelig (Woody Allen), um homem que tem a capacidade de se transformar - psicologicamente e fisicamente - de acordo com quem estiver interagindo. Sendo assim, Zelig pode ser irlandês, negro, gordo, médico, indío, soldado (é ótimo, um judeu que vira soldado nazista, ao lado de Hitler), piloto de avião, para citar algumas das personalidades que assume durante o filme. 
Passado em preto e branco, Zelig se torna um caso clínico, depois um freak show, mas sempre uma personalidade nos EUA. Todos querem conhecer o camaleão humano, que pode ser qualquer um, mas quando está só não é ninguém... Woody entrelaça takes reais, com personalidades reais, inserindo a figura de Zelig.
E assim, me lembro que quando vi o filme a primeira vez eu me apaixonei de cara, porque eu me considero um pouco Zelig, e na verdade quem não seria? Nossa identidade é construída de maneira interativa, somos de acordo com quem convivemos. É difícil engolir a história de que somos verdadeiros e únicos, porque na verdade somos múltiplos, somos filho, pai ou mãe, tios, amigos, amantes, profissionais e em cada um desses locais nos adequamos, nos adaptamos como um camaleão...
Mas é óbvio que há um limite e para Zelig a explicação para sua situação não é patológica, mas psicológica (apesar da junta de médicos discordar totalmente). Quem o cura é a Dra. Eudora Fletcher (Mia Farrow) uma psicanalista. Zelig tem esse distúrbio porque quer agradar a todos, porque quer ser aceito... E atire a primeira pedra quem nunca na vida fingiu ter lido Moby Dick para fazer parte de um grupo... Então Zelig fala de inseguranças e aí, poxa, ele vai fundo. Engraçado que senti uma diferença grande da primeira vez que vi o filme e agora, quando o revi para poder escrever aqui. A primeira vez que vi me identifiquei totalmente, eu era o Zelig em sua versão light feminina. Mas agora, um pouco mais velha, ainda enxergo as semelhanças, mas vejo com mais facilidade o quanto é inútil e frustrante tentar agradar a todos, como este caminho é curto para a infelicidade. Creio que o fato de ser professora ajuda muito neste processo, porque não há exposição maior para a necessidade de aceitação do que ser docente, não é verdade?! Não dá para agradar a todos. Mas ainda acho que de médico, louco e Zelig todo mundo tem um pouco, afinal de contas vivemos em sociedade e interagir é preciso. 
Zelig (Zelig, EUA, 1983) *****

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