Bem, como ontem eu falei
sobre a minha paixão por Woody Allen - ele é meu diretor favorito - nada mais
justo que comentar hoje um filme dele. Eu gosto muito do Woody, mas não me
lembro como minha predileção por ele começou. Embora eu seja fanzoca dele, tem
filmes que amo, outros gosto muito e outros simplesmente gosto. Todos dizem que
ele inaugurou uma nova fase a partir de Match Point, e eu acho incrível nele
essa capacidade de mudança, mas eu gosto de seus filmes antigos e gosto de seus
filmes que são considerados sua pior fase (de 2000 até 2005), eu adoro
"Trapaceiros", "O Escorpião de Jade", "Dirigindo no
Escuro" e "Melinda e Melinda".
Woody
não é bom ator, pois sempre interpreta ele mesmo em seus filmes, e isso pode
parecer repetitivo, mas incrivelmente não é. Eu gosto muito do seu tipo, um
nova-iorquino neurótico, frustrado, um judeu quase ateu, é hilário! Por
curiosidade fiz umas contas por aqui e percebi que, dos seus 50 filmes eu vi
quase 40, o que me permite comentar um por semana neste projeto do blog. O que
eu mais gosto em seus filmes é que ele consegue pegar uma característica da
sociedade e colocá-la em close
up. Dificilmente você será
convencido a ver seus filmes pela sinopse, porque muitas vezes eles não estão
preocupados com finais surpreendentes e tramas muito bem amarradas, mas sim com
diálogos interessantes, inteligentes, e são nestas sutilezas que ele sempre me
ganha.

O
filme que gostaria de falar hoje está, certamente, no topo dos meus preferidos.
Em "Zelig" Woody coloca em evidência a construção de identidades
culturais, apresentando a história do camaleão humano. O filme - de 1983, ano
do meu nascimento - é apresentado como se fosse um documentário da vida de
Leonard Zelig (Woody Allen), um homem que tem a capacidade de se transformar -
psicologicamente e fisicamente - de acordo com quem estiver interagindo. Sendo
assim, Zelig pode ser irlandês, negro, gordo, médico, indío, soldado (é ótimo,
um judeu que vira soldado nazista, ao lado de Hitler), piloto de avião, para
citar algumas das personalidades que assume durante o filme.
Passado
em preto e branco, Zelig se torna um caso clínico, depois um freak show, mas
sempre uma personalidade nos EUA. Todos querem conhecer o camaleão humano, que
pode ser qualquer um, mas quando está só não é ninguém... Woody entrelaça takes reais, com personalidades reais,
inserindo a figura de Zelig.
E
assim, me lembro que quando vi o filme a primeira vez eu me apaixonei de cara,
porque eu me considero um pouco Zelig, e na verdade quem não seria? Nossa
identidade é construída de maneira interativa, somos de acordo com quem
convivemos. É difícil engolir a história de que somos verdadeiros e únicos,
porque na verdade somos múltiplos, somos filho, pai ou mãe, tios, amigos,
amantes, profissionais e em cada um desses locais nos adequamos, nos adaptamos
como um camaleão...

Mas
é óbvio que há um limite e para Zelig a explicação para sua situação não é
patológica, mas psicológica (apesar da junta de médicos discordar totalmente).
Quem o cura é a Dra. Eudora Fletcher (Mia Farrow) uma psicanalista. Zelig tem
esse distúrbio porque quer agradar a todos, porque quer ser aceito... E atire a
primeira pedra quem nunca na vida fingiu ter lido Moby Dick para fazer parte de
um grupo... Então Zelig fala de inseguranças e aí, poxa, ele vai fundo.
Engraçado que senti uma diferença grande da primeira vez que vi o filme e
agora, quando o revi para poder escrever aqui. A primeira vez que vi me
identifiquei totalmente, eu era o Zelig em sua versão light feminina. Mas
agora, um pouco mais velha, ainda enxergo as semelhanças, mas vejo com mais
facilidade o quanto é inútil e frustrante tentar agradar a todos, como este
caminho é curto para a infelicidade. Creio que o fato de ser professora ajuda
muito neste processo, porque não há exposição maior para a necessidade de
aceitação do que ser docente, não é verdade?! Não dá para agradar a todos. Mas
ainda acho que de médico, louco e Zelig todo mundo tem um pouco, afinal de
contas vivemos em sociedade e interagir é preciso.
Zelig
(Zelig, EUA, 1983) *****
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