Na hora que eu li a
sinopse de "Morangos Silvestres" eu tive uma nítida sensação de dejà vu. Depois me lembrei que era um
filme do Woody, mas demorei pra saber que era o "Desconstruindo
Harry" (que, acredite se puder, eu jurava que não tinha visto ainda,
affe). Bergman é um ídolo de Woody que é um ídolo meu, e em
"Desconstruindo" há uma homenagem clara, mas na sinopse, porque
"Morangos" é um drama e "Desconstruindo" uma comédia, e das
bem engraçadas (não é uma comédia tipo pastelão, é uma comédia tipo Woody Allen).
Mas nos dois filmes há um homem frio, egoísta, solitário e vazio que precisa
viajar, pois será homenageado pela universidade que estudou. Em
"Morangos" Isak vai com sua nora e no decorrer da viagem dá carona
para algumas pessoas; em "Desconstruindo" Harry não quer ir só, então
convida uma prostituta (que foi à sua casa no dia anterior), um colega que não
via há tempos e sequestra seu filho (já que a mãe não autoriza a viagem).
"Morango" está mais centrado no trajeto, na estrada, mas ambos
visitam parentes nos trechos e, durante o filme, tentam relembrar coisas do
passado que justifiquem a maneira com levam a vida no presente.
Harry Block (sobrenome
sugestivo, não?!) é um escritor muito imaginativo, mas está sofrendo de
bloqueio, não consegue escrever. Teve vários relacionamentos conturbados
(amorosos e familiares), e as pessoas à sua volta (na maioria mulheres) o
odeiam, pois além de ter um comportamento frio e sem sentimentos, ele escreve
todos os detalhes de sua vida nos livros, expondo a vida particular das
pessoas. E é muito bonito, além de divertido, a maneira como as cenas vão sendo
construídas, entrelaçando memórias, imaginação e realidades. A cena do ator que
simplesmente começa a ficar desfocado é genial, e a do inferno idem.
Creio que o filme é autobiográfico,
inspirado na vida do próprio Woody, conturbada no plano pessoal e bem-sucedida
no profissional; não é a toa que ele diz escrever a história de um cara que
"não funciona muito bem na vida, só na arte”. E o
final do filme é uma linda declaração de amor, Harry, em frente a todos seus
personagens diz: “eu amo a todos, é sério. Vocês me deram os
melhores momentos da minha vida e salvaram-me a vida por várias vezes. E agora
estão me ensinando coisas e eu estou profundamente grato”. E o que o filme
deixa? Que muitas vezes, para que possamos compreender, nós temos que
desconstruir, porque o que pode parecer triste à primeira vista, lá no fundo
pode ser engraçado e feliz.
Desconstruindo
Harry (Deconstructing Harry, EUA, 1997) *****
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