quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

23° - "Desconstruindo Harry"


Na hora que eu li a sinopse de "Morangos Silvestres" eu tive uma nítida sensação de dejà vu. Depois me lembrei que era um filme do Woody, mas demorei pra saber que era o "Desconstruindo Harry" (que, acredite se puder, eu jurava que não tinha visto ainda, affe). Bergman é um ídolo de Woody que é um ídolo meu, e em "Desconstruindo" há uma homenagem clara, mas na sinopse, porque "Morangos" é um drama e "Desconstruindo" uma comédia, e das bem engraçadas (não é uma comédia tipo pastelão, é uma comédia tipo Woody Allen). Mas nos dois filmes há um homem frio, egoísta, solitário e vazio que precisa viajar, pois será homenageado pela universidade que estudou. Em "Morangos" Isak vai com sua nora e no decorrer da viagem dá carona para algumas pessoas; em "Desconstruindo" Harry não quer ir só, então convida uma prostituta (que foi à sua casa no dia anterior), um colega que não via há tempos e sequestra seu filho (já que a mãe não autoriza a viagem). "Morango" está mais centrado no trajeto, na estrada, mas ambos visitam parentes nos trechos e, durante o filme, tentam relembrar coisas do passado que justifiquem a maneira com levam a vida no presente.
Harry Block (sobrenome sugestivo, não?!) é um escritor muito imaginativo, mas está sofrendo de bloqueio, não consegue escrever. Teve vários relacionamentos conturbados (amorosos e familiares), e as pessoas à sua volta (na maioria mulheres) o odeiam, pois além de ter um comportamento frio e sem sentimentos, ele escreve todos os detalhes de sua vida nos livros, expondo a vida particular das pessoas. E é muito bonito, além de divertido, a maneira como as cenas vão sendo construídas, entrelaçando memórias, imaginação e realidades. A cena do ator que simplesmente começa a ficar desfocado é genial, e a do inferno idem.
Creio que o filme é autobiográfico, inspirado na vida do próprio Woody, conturbada no plano pessoal e bem-sucedida no profissional; não é a toa que ele diz escrever a história de um cara que "não funciona muito bem na vida, só na arte”. E o final do filme é uma linda declaração de amor, Harry, em frente a todos seus personagens diz: “eu amo a todos, é sério. Vocês me deram os melhores momentos da minha vida e salvaram-me a vida por várias vezes. E agora estão me ensinando coisas e eu estou profundamente grato”. E o que o filme deixa? Que muitas vezes, para que possamos compreender, nós temos que desconstruir, porque o que pode parecer triste à primeira vista, lá no fundo pode ser engraçado e feliz. 

Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry, EUA, 1997) *****

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