Eu já tive a oportunidade
de dizer aqui que gosto muito do Jack Nicholson, ele é ótimo, tem carisma, faz
filmes de vários gêneros e está em muitos dos meus filmes prediletos (mas
também fez filmes que eu não gosto nem um pouco, como "Tratamento de
Choque", ruim), portanto ele ainda aparecerá muito por aqui.
"Confissões de Schimdt" é um filme fantástico, delicado, mas ao mesmo
tempo é uma bofetada. É o segundo filme do tipo "road movie" que vi
de Nicholson, o primeiro foi o clássico "Easy Rider", também
excelente.
É
engraçado porque eu revi o filme ontem, justamente no dia que estava pensando
na vida, na ideia de ter ou não filhos e na importância desta decisão para a velhice.
Schmidt acabou de se aposentar, é um cara medíocre em todos os sentidos, vive para
o trabalho, mas não é feliz: não é feliz em casa, não tem lazer, não tem
prazeres; e uma pessoa assim não dá conta de se aposentar, vamos combinar. Sem
ter muito o que fazer, sendo facilmente substituído na empresa pela qual dedicou
boa parte da vida, ele vê um comercial sobre apadrinhamento de crianças do 3°
mundo, algo do tipo "doe $22,00 por mês e ajude uma criança a sair da
miséria e da fome", só que junto com o dinheiro Schmidt precisa escrever
uma carta, e ele a faz como um diário, como uma sessão de análise; sem conhecer
pessoalmente o menino para quem escreve, ele se vê livre para realmente dizer o
que sente (ou pelo menos dizer o que ele quer).
Ele
é infeliz, vive há 42 anos com sua mulher e acha que detesta todas as suas
manias, só que ela morre, logo no início, de um coágulo no cérebro, e a partir
daí Schmidt vai reavaliar sua vida, mas sem ser piegas. O filme fala da solidão
e tem cenas tristes e lindas, como a dele sentindo saudades da esposa e se
lambuzando com o creme de rosto dela. Schmidt tem uma filha que mora longe, é
fútil e fria, assim como o pai. Em sua solidão, Schmidt vai para o casamento
dela com alguns dias de antecedência, mas ela não quer sua presença, então ele
resolve ir aos lugares que já foram importantes pra ele um dia, passando em
cidades, revendo sua vida, pensando em perdão e nos sentidos da vida...
No
início do filme, na cena na qual a empresa faz uma festa de aposentadoria, um
colega de Schmidt faz um discurso caloroso centrado na ideia de que "o que
importa é saber que você se dedicou a algo importante na vida" e poxa deve
ser uma pedrada olhar para traz e perceber que você foi mediano, que a coisa
pela qual se dedicou mais você é facilmente substituído por um garoto que acaba
de sair da faculdade. O próprio Schmidt fala que quando jovem tinha o
desejo de fazer a diferença, de ser meio-importante, de criar uma empresa, mas
a vida foi levando, foi acontecendo...
Hoje em dia há um
discurso muito forte de que você deve ser produtivo para se sentir vivo, e vejo
aí uma legião de workholics sendo construída, pessoas que falam com orgulho que
trabalharam o fim de semana inteiro, que ficaram a madrugada estudando ou
trabalhando. Não estou fazendo aqui apologia à preguiça do trabalho, ao
contrário. Eu gosto muito de trabalhar, mas o meu trabalho não me define, não
me resume. É apenas mais uma parte de mim, longe de ser a única e
a preponderante. Eu tenho minha vida, meu lazer, minhas horas de ócio
produtivo, minha família, e tudo isso é importante também. Se no trabalho nós
somos facilmente substituídos, não podemos dizer o mesmo da família, dos amigos
e é neles que devemos nos centrar na vida, porque o resto te abandona, o
trabalho, o dinheiro, o prestígio, mas não o amor, a amizade, o companheirismo.
E voltando ao filme, ele
tem um final incrível, porque pequenas atitudes podem causar grandes diferenças
e que o amor e o afeto pode vir de onde menos esperamos.
As Confissões de Schmidt
(About Schmidt, EUA, 2002) ****
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