segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

21° - "As Confissões de Schmidt"


Eu já tive a oportunidade de dizer aqui que gosto muito do Jack Nicholson, ele é ótimo, tem carisma, faz filmes de vários gêneros e está em muitos dos meus filmes prediletos (mas também fez filmes que eu não gosto nem um pouco, como "Tratamento de Choque", ruim), portanto ele ainda aparecerá muito por aqui. "Confissões de Schimdt" é um filme fantástico, delicado, mas ao mesmo tempo é uma bofetada. É o segundo filme do tipo "road movie" que vi de Nicholson, o primeiro foi o clássico "Easy Rider", também excelente.
É engraçado porque eu revi o filme ontem, justamente no dia que estava pensando na vida, na ideia de ter ou não filhos e na importância desta decisão para a velhice. Schmidt acabou de se aposentar, é um cara medíocre em todos os sentidos, vive para o trabalho, mas não é feliz: não é feliz em casa, não tem lazer, não tem prazeres; e uma pessoa assim não dá conta de se aposentar, vamos combinar. Sem ter muito o que fazer, sendo facilmente substituído na empresa pela qual dedicou boa parte da vida, ele vê um comercial sobre apadrinhamento de crianças do 3° mundo, algo do tipo "doe $22,00 por mês e ajude uma criança a sair da miséria e da fome", só que junto com o dinheiro Schmidt precisa escrever uma carta, e ele a faz como um diário, como uma sessão de análise; sem conhecer pessoalmente o menino para quem escreve, ele se vê livre para realmente dizer o que sente (ou pelo menos dizer o que ele quer).
Ele é infeliz, vive há 42 anos com sua mulher e acha que detesta todas as suas manias, só que ela morre, logo no início, de um coágulo no cérebro, e a partir daí Schmidt vai reavaliar sua vida, mas sem ser piegas. O filme fala da solidão e tem cenas tristes e lindas, como a dele sentindo saudades da esposa e se lambuzando com o creme de rosto dela. Schmidt tem uma filha que mora longe, é fútil e fria, assim como o pai. Em sua solidão, Schmidt vai para o casamento dela com alguns dias de antecedência, mas ela não quer sua presença, então ele resolve ir aos lugares que já foram importantes pra ele um dia, passando em cidades, revendo sua vida, pensando em perdão e nos sentidos da vida...
No início do filme, na cena na qual a empresa faz uma festa de aposentadoria, um colega de Schmidt faz um discurso caloroso centrado na ideia de que "o que importa é saber que você se dedicou a algo importante na vida" e poxa deve ser uma pedrada olhar para traz e perceber que você foi mediano, que a coisa pela qual se dedicou mais você é facilmente substituído por um garoto que acaba de sair da faculdade. O próprio Schmidt fala que quando jovem tinha o desejo de fazer a diferença, de ser meio-importante, de criar uma empresa, mas a vida foi levando, foi acontecendo...

Hoje em dia há um discurso muito forte de que você deve ser produtivo para se sentir vivo, e vejo aí uma legião de workholics sendo construída, pessoas que falam com orgulho que trabalharam o fim de semana inteiro, que ficaram a madrugada estudando ou trabalhando. Não estou fazendo aqui apologia à preguiça do trabalho, ao contrário. Eu gosto muito de trabalhar, mas o meu trabalho não me define, não me resume. É apenas mais uma parte de mim, longe de ser a única e a preponderante. Eu tenho minha vida, meu lazer, minhas horas de ócio produtivo, minha família, e tudo isso é importante também. Se no trabalho nós somos facilmente substituídos, não podemos dizer o mesmo da família, dos amigos e é neles que devemos nos centrar na vida, porque o resto te abandona, o trabalho, o dinheiro, o prestígio, mas não o amor, a amizade, o companheirismo.
E voltando ao filme, ele tem um final incrível, porque pequenas atitudes podem causar grandes diferenças e que o amor e o afeto pode vir de onde menos esperamos. 
As Confissões de Schmidt (About Schmidt, EUA, 2002) ****

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