quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

37° - "As horas"


Acho difícil construir um texto sobre "As horas", um filme que eu nem consegui compreendê-lo em sua plenitude, e nas cenas são tantos detalhes, tantas sutilezas, eu pensei e senti tantas coisas, que é bem possível que não consiga traduzir em palavras, mas tentarei. 
Posso começar dizendo que "As horas" é um filme maravilhoso sobre mulheres e também sobre tristeza (me lembrou - levemente - "Melancolia"). Ele tem uma abordagem diferente e três histórias são apresentadas de três momentos históricos diferentes. O primeiro deles é Virgínia Wolf (Nicole Kidman) escrevendo seu livro, em 1923, "Mrs. Daloway” no processo de uma doença depressiva muito sofrida para ela e seu marido; outro momento, em 1951, é sobre a história de Laura Brown (Juliane Moore) que é uma dona de casa com uma vida que tem tudo para ser feliz (a felicidade é praticamente uma obrigação ali), um marido amoroso e trabalhador, uma casa, um filho bonito, esperto e saudável e ainda está grávida - numa época na qual a realização da mulher estava na maternidade – está lendo o livro citado de Woolf e deseja se matar; e por fim, em 2001, Clarissa Vaughan (Meryl [diva] Streep) é um editora novaiorquina, que tem um relacionamento com Sally, tem uma filha e um amigo poeta (que também foi amante há tempos) que ela cuida, pois está muito doente (AIDS).
Essas três histórias aparentemente tão distantes são bem próximas e o que as une é, além do livro, o fato de que o filme narra um dia na vida de cada uma delas, mas o dia no qual elas tomam consciência da sua própria vida.
E o que é a vida? O que é felicidade? Clarissa a define como o dia no qual, ao acordar, sentiu que havia possibilidades... Mas chega o momento que a vida se torna compreensível e até trivial. O filme não narra apenas grandes acontecimentos na vida dessas mulheres, mas que assim como a felicidade, também a tristeza, a infelicidade e a melancolia estão próximas, e às vezes aparecem sem sentido, nas pequenas coisas, em se sentir desajustado (gosto da cena na qual Virgínia está na rua, sentada, pensando nas possibilidades de sua heroína e define que ela se matará por algum motivo pequeno, que não a afetava antes)...
E o filme é uma grande homenagem à Virgínia Woolf, mostra como seu livro “Mrs. Dalloway” é atemporal, e isso é apresentado de maneira muito inteligente na narrativa, enquanto Virgínia escreve o livro, muitos de seus detalhes, idealizados lá em 1927, são executados no futuro; também existe uma identificação grande entre o livro e as três protagonistas: a primeira o escreve, a segunda o lê e a terceira é a própria personificação de Mrs. Dalloway, inclusive esse é seu apelido dado por seu amigo Richard (Ed Harris). É Richard também o elo entre Laura e Clarissa e mostra como uma doença triste como a depressão pode influenciar tantas pessoas em volta.
O título do filme não poderia ser melhor, além de ser uma referência ao nome provisório de Mrs. Dalaway, tem uma ligação com as horas do dia que é descrito no filme e acima de tudo, é uma referência à própria depressão. Quando Richard diz à Clarissa algo do tipo, nós vamos à festa, nos divertiremos e depois? E as horas depois da festa? E as hora de amanhã? É difícil pensar no depois se não há esperança.
E o filme ainda tem as atuações primorosas das três protagonistas, Nicole (que ganhou o Oscar por sua atuação), Juliane e Meryl. Gosto muito da cena que começa e também termina o filme, baseada no suicídio de Virgínia, é uma cena belíssima, com ela lendo, ao fundo, a carta de despedida que escreveu ao marido.
Mas “As horas” não é um dramalhão, filme de chorar, ao contrário, é um filme de reflexão, que te faz pensar nas nuances do ser humano e nosso objetivo no mundo.
As horas (The hours, EUA, 2001) *****

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