Acho difícil construir um
texto sobre "As horas", um filme que eu nem consegui compreendê-lo em
sua plenitude, e nas cenas são tantos detalhes, tantas sutilezas, eu pensei e
senti tantas coisas, que é bem possível que não consiga traduzir em palavras, mas
tentarei.
Posso
começar dizendo que "As horas" é um filme maravilhoso sobre mulheres
e também sobre tristeza (me lembrou - levemente - "Melancolia"). Ele
tem uma abordagem diferente e três histórias são apresentadas de três momentos
históricos diferentes. O primeiro deles é Virgínia Wolf (Nicole Kidman) escrevendo seu
livro, em 1923, "Mrs. Daloway” no processo de uma doença depressiva muito
sofrida para ela e seu marido; outro momento, em 1951, é sobre a história de Laura
Brown (Juliane Moore) que é uma dona de casa com uma vida que tem tudo para ser
feliz (a felicidade é praticamente uma obrigação ali), um marido amoroso e
trabalhador, uma casa, um filho bonito, esperto e saudável e ainda está grávida
- numa época na qual a realização da mulher estava na maternidade – está
lendo o livro citado de Woolf e deseja se matar; e por fim, em 2001, Clarissa
Vaughan (Meryl [diva] Streep) é um editora novaiorquina, que tem um
relacionamento com Sally, tem uma filha e um amigo poeta (que também foi amante há
tempos) que ela cuida, pois está muito doente (AIDS).
Essas três histórias
aparentemente tão distantes são bem próximas e o que as une é, além do livro, o
fato de que o filme narra um dia na vida de cada uma delas, mas o dia no qual
elas tomam consciência da sua própria vida.
E o que é a vida? O que é
felicidade? Clarissa a define como o dia no qual, ao acordar, sentiu que havia
possibilidades... Mas chega o momento que a vida se torna compreensível e até
trivial. O filme não narra apenas grandes acontecimentos na vida dessas
mulheres, mas que assim como a felicidade, também a tristeza, a infelicidade e
a melancolia estão próximas, e às vezes aparecem sem sentido, nas pequenas
coisas, em se sentir desajustado (gosto da cena na qual Virgínia está na rua,
sentada, pensando nas possibilidades de sua heroína e define que ela se matará
por algum motivo pequeno, que não a afetava antes)...
E o filme é uma grande
homenagem à Virgínia Woolf, mostra como seu livro “Mrs. Dalloway” é atemporal,
e isso é apresentado de maneira muito inteligente na narrativa, enquanto
Virgínia escreve o livro, muitos de seus detalhes, idealizados lá em 1927, são
executados no futuro; também existe uma identificação grande entre o livro e as
três protagonistas: a primeira o escreve, a segunda o lê e a terceira é a
própria personificação de Mrs. Dalloway, inclusive esse é seu apelido dado por
seu amigo Richard (Ed Harris). É Richard também o elo entre Laura e Clarissa e mostra como
uma doença triste como a depressão pode influenciar tantas pessoas em volta.
O título do filme não
poderia ser melhor, além de ser uma referência ao nome provisório de Mrs.
Dalaway, tem uma ligação com as horas do dia que é descrito no filme e acima de
tudo, é uma referência à própria depressão. Quando Richard diz à Clarissa algo
do tipo, nós vamos à festa, nos divertiremos e depois? E as horas depois da
festa? E as hora de amanhã? É difícil pensar no depois se não há esperança.
E o filme ainda tem as
atuações primorosas das três protagonistas, Nicole (que ganhou o Oscar por sua
atuação), Juliane e Meryl. Gosto muito da cena que começa e também termina o
filme, baseada no suicídio de Virgínia, é uma cena belíssima, com ela lendo, ao
fundo, a carta de despedida que escreveu ao marido.
Mas “As horas” não é um
dramalhão, filme de chorar, ao contrário, é um filme de reflexão, que te faz pensar
nas nuances do ser humano e nosso objetivo no mundo.
As
horas (The hours, EUA, 2001) *****
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