segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

35° - "Obrigado por fumar"


Pelo que li - superficialmente - na internet, os espectadores tiveram uma impressão bem diferente da minha em "Obrigado por Fumar"; que é fantástico e certamente um dos meus preferidos. Tenho que admitir que, antes de vê-lo pela primeira vez, eu tinha um certo preconceito com o título, pois achava que era um documentário do tipo "Super size me" falando sobre os malefícios do cigarro, mas não, o filme não tem nada disso, nem chega perto; porque apesar de muita gente falar o contrário, o filme não é sobre o tabagismo (ele poderia, e o faz no fim do filme, estar defendendo qualquer outra coisa ou tema). "Obrigado por fumar" fala sobre a importância das palavras e, principalmente  o poder das palavras, o poder de quem tem o dom da fala (sinceramente me lembrou bem a conturbada entrevista do Silas Malafaia no "de frente com Gabi" exibido ontem).
Nick Naylor (Aaron Eckhart) é lobista da indústria do tabaco nos EUA e o filme mostra como ele desenvolve seu ponto de vista, "sou pago para falar. Não sou doutor, nem advogado. Sou bacharel em ofender e em ser xingado". Isso porque defender o cigarro numa sociedade cada vez neurótica com o politicamente correto e com a 'vida saudável' não é pra qualquer um, e também pudera, lá no início do filme Nick diz, "há Átila, Gengis e eu representante dos cigarros" que mata 1.200 pessoas por dia nos EUA. Pronto, chegamos num ponto fantástico do filme, ele não faz apologia a nada, não está a fim de levantar bandeira e blábláblá. Com relação ao cigarro (que é o pano de fundo da questão) Nick está certo e errado, assim como Ortolan Finistirre (William H. Macy, que está no também ótimo "Fargo") o senador, que aparentemente tem boas intenções em levantar a bandeira do anti-tabagismo (apesar de serem ideias ridículas), mas na verdade o faz para se promover como político.
O filme chega até a beirada do relativismo porque ele mostra que mesmo num assunto tão polêmico - e em princípio óbvio - há espaço para verdades e mentiras. Afinal, o que é verdade? O que é certo? Qual é a atitude verdadeiramente desinteressada? Nick Naylor defende então a beleza do argumento, se você argumentar corretamente nunca estará errado. Mas é o próprio Nick que fala ao filho que este tipo de trabalho não é pra qualquer um, porque é necessário certa "flexibilidade moral" que poucas pessoas têm. No processo de ganhar na fala, nem sempre atacar ao argumento do adversário é a melhor saída, mas simplesmente provar que está errado (como na cena na qual Nick e seu filho conversam num parque de diversões e ele pede para o filho defender o sorvete de chocolate enquanto ele defende o de baunilha).
O papel de Nick Naylor é ter o controle da mídia, é aparecer em situações diversas e tentar minimizar os efeitos negativos que a indústria do tabaco tem na sociedade (a cena inicial é ótima, ele consegue reverter a ideia do programa e ainda termina apertando a mão do rapaz com câncer, levado obviamente para demonstrar os malefícios do cigarro), e o cara é fantástico em seu poder de persuasão, na frieza com a qual ouve os outros argumentos (sempre, taticamente, com um sorriso no rosto) e na falta de paixão para defender seu ponto de vista (fundamental para não perder o equilíbrio numa discussão).
Há outra cena excelente, onde Nick é sequestrado e os bandidos enchem seu corpo com adesivos de nicotina e quando Nick acorda no hospital seu médico diz que os cigarros salvaram sua vida, pois nenhum não fumante aguentaria a quantidade de nicotina que tinha no sangue!
Eu poderia aqui citar todas as cenas do filme, porque são excelentes, com ótima edição e apresentação dos personagens, bonitas de ver e, claro com diálogos afiados. Gosto também dos “Mercadores da Morte”, outros dois lobistas e amigos de Nick (uma defende o álcool e o outro as armas), os três se reúnem uma vez por semana para comer juntos e conversar; tem uma cena ótima na qual os três discutem sobre qual tema é mais polêmico e qual dos três tem mais risco de ser sequestrado por conta do número de morte que as indústrias que representam proporcionam na sociedade.
“Obrigado” ainda tem uma sacada excelente, nenhum cigarro foi aceso ou fumado durante o filme que fala sobre a importância de cigarros em filmes como propaganda para a indústria. Foi dirigido por Jason Reitman o mesmo de "Juno" e "Amor sem escalas", outros filmes também ótimos; e é uma comédia irônica, inteligente, com piadas sagazes e muito, muito divertida.
“Michael Jordan joga bola. Charles Manson mata pessoas. Eu falo. Todos têm um talento”.
Obrigado por fumar (Thank you for smoking, EUA, 2005) *****

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