segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

42° - "A primeira coisa bela"


Se Eva, a mãe de Kevin, teve que pagar duramente por não ter um espírito maternal tão desenvolvido, Anna Nigiotti a mãe de "A primeira coisa bela" é praticamente a mamma do nosso estereótipo de mãe italiana, ela ama os filhos e em meio a toda sua vida, imprevistos e pelejas, ela sempre lutou para ter os filhos embaixo da sua asa.
Sabe que pensando com cuidado as duas mães não estão tão longe assim, primeiro porque são mães, e depois porque elas não se encaixam nos padrões esperados de uma mulher (até hoje, sim...). Se Eva teve que sofrer porque não queria o filho, não se sentia maternal, Anna é uma mãe bonita, desejada por outros homens e nada disso citado acima está no script da vida esperada de uma mulher (e mãe). Nós podemos estudar, trabalhar, ter nossa independência material e emocional, mas em algum momento a sociedade espera de nós que procriemos e, procriando, que amemos nossos filhos como nunca amamos nada nem ninguém; após nos tornarmos mãe, esse será nosso principal papel, de protagonista, praticamente nos definindo... Grande parte das mulheres se encaixa nessa rotina, mas aquelas que não certamente sofrem algum tipo de pressão, pior do que serem solteiras, serem casadas e optarem por não ter filhos, e tendo filhos cuidarem dele como parte da família, não como rei ou rainha (como diria Mafalda, vivendo em cooperativa, sem chefes de família, risos). 
Não estou fazendo com isso apologia a não ter filhos ou a não amar os filhos, nada disso. Só estou querendo provocar um pouco pelo fato de que o que a sociedade espera de nós é muito limitador e por isso, muitas vezes, frustrante...
Anna Nigiotti (vivida por Micaela Ramazzotti mais nova e por Stefania Sandrelli mais velha) é esposa, mãe de um casal e bonita, extremamente sexy para uma mãe dos anos 1970, pronto este é seu fardo e seu pecado. O filme inicia-se mostrando Anna ganhando o concurso de "miss mamma" (ela não se inscreveu, estava no meio da plateia e foi convidada, por sua beleza) e isso gera um ciúme excessivo do marido, que fica agressivo com ela e com os filhos; é o suficiente para Anna sair de casa no meio da noite, mas levando os filhos, claro. Na casa do pai, sua irmã não a aceita e ela tem que ir pra um hotel, e depois disso vai passando uma dificuldade atrás da outra para sobreviver e oferecer um lar e certo conforto aos filhos; mas sempre há carinho e afeto. Na verdade esses acontecimentos são mostrados em flashbacks, porque o filme é apresentado na atualidade, com Anna no hospital, já no fim da vida. Seus filhos estão crescidos, Valéria (Claudia Pandolfi) cuida da mãe, mas seu irmão Bruno (Valério Mastandrea) que é professor e um homem frustrado (apesar de ter uma namorada que é uma fofa) mora em outra cidade e não visita a mãe. Valéria, então, vai buscá-lo para que possa se despedir e passar alguns dias (os últimos) com a mãe. Nesses encontros o filme vai mostrando histórias passadas, a frustração de Bruno em ter uma mãe solteira e bonita (e cobiçada pelos amigos adolescentes, que fazem piada sobre ela) e como os filhos, embora com a mesma criação, a veem e lidam com a mãe de maneira bem diferente.
No presente Anna ainda continua bonita e de bem com a vida, apesar de estar muito doente, ainda se casa, na cena final – e mais bonita – do filme. Confesso que “A primeira coisa bela”, apesar de ser muito comentado, não me surpreendeu muito e o filme se desenrolou de forma muito parecida com tantos outros. Mas qualquer filme, por ruim que seja (não péssimo, ou será que até os péssimos?) ainda tem uma última chance, de redenção, que é o final, e o final de “A primeira coisa” é muito bonito e emocionante (no mesmo fim de semana vi também o ótimo “Drive”, que faz um caminho inverso, é ótimo durante e tem um final a desejar... e por incrível que pareça, com o tempo, os filmes que têm um final primoroso – não digo necessariamente feliz, mas que combine com o desenrolar da trama – são os que ficam).
A primeira coisa bela (La prima cosa bella, Itália, 2010) ***

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