Para inaugurar a semana
do meu aniversário, que culminará no sábado, quando eu finalmente me tornarei
uma "Balzaca", escolhi falar deste filme que tem tudo a ver com
Balzac, mas nada a ver com sua obra mais famosa (mas que também o limita) "a
mulher de 30 anos".
"Balzac
e a costureirinha chinesa" é um filme incrível, delicado, feminista. Ele vai falar em como um livro tem a capacidade de mudar uma vida inteira e escolhe
o cenário mais inóspito para tal tema, a revolução cultural promovida por Mao
Tse-Tung no fim da década de 1960 que entre outras medidas, eliminou das
bibliotecas obras ocidentais consideradas burguesas, tornando suas leituras
proibidas.
O
filme inicia-se com dois jovens (Luo e Ma) chegando à uma pequena comunidade
isolada no Tibet, eles foram para lá levados pois são considerados burgueses
reacionários (e seus pais também) e então são encaminhados para este centro de
reeducação. A comunidade é muito simples e ignorante (acho que ninguém ou quase
ninguém sabe ler) e o chefe considera tudo que seja diferente uma afronta ao
líder chinês e assim queima livros e alguns pertences dos garotos, menos o
violino de Ma, pois Luo o convence que Mozart compunha para o presidente
Mao.
Então
o filme mostra a dificuldade dos dois amigos em viver e trabalhar no campo, com
toda pressão física e também psicológica. Eles conhecem a Costureirinha (neta
do alfaiate local) e se apaixonam por ela (cada um a seu modo). Luo que mantém
um romance com ela promete que vai educá-la e conta suas histórias, até um dia
que ela revela aos dois que Quatro Olhos (um jovem que também está sendo
reeducado, mas aparentemente está prestes a voltar para a cidade) tem uma mala
com vários livros proibidos. Os dois roubam a mala e lá descobrem vários livros
de autores diversos, como Dumas, Flaubert, Baudelaire, Rousseau, Dostoievski,
Dickens e Balzac. Eles escondem os livros numa gruta e a leitura faz com que o
tempo e a vida dos três mudem. É linda a cena na qual Ma se levanta, após
passar a noite toda lendo Ursule Mirouet e murmura que o mundo mudou, "o
céu, as estrelas, os sons, a luz, até o cheiro dos porcos"...
Mas a maior e melhor
mudança vem da Costureirinha, que se apaixona por Balzac, em meio à literatura
a garota aprende a ler e a se libertar e esse processo é muito bonito de ver. Quando ela decide ir embora, para a cidade, Lou, apaixonado, lhe
pergunta: “quem a transformou?” e ela “Balzac”. Logo depois Lou diz à Ma, “ela
foi embora por causa de Balzac, disse que lhe ensinou uma coisa: a beleza de
uma mulher é um tesouro sem preço.”
“Meu pobre Cristóvão você
não imagina as delícias da liberdade. Sentir que todas as mentes à sua volta
são livres, mesmo a dos ignorantes, é um prazer indescritível como se a alma
estivesse nadando em céus infinitos. Ela jamais poderia viver em outra parte”.
Balzac e a Costureirinha
chinesa (Balzac et la petite tailleuse chinoise, China e França, 2001) ****
Nenhum comentário:
Postar um comentário