"Eu nunca mais terei medo. Eu tive,
porém. Cheguei a pensar que estávamos perdidos. Parecia que só tínhamos
inimigos nesse mundo. Como se ninguém fosse amistoso. Eu me senti mal e
assustada. Como se estivéssemos perdidos e ninguém ligasse... Os ricos nascem,
morrem, e seus filhos também não prestam e desaparecem. Mas nós continuamos.
Somos nós que vivemos. Eles não podem acabar conosco. Não podem nos vencer. Nós
viveremos para sempre, porque nós somos o povo".
(Mãe)
"As
vinhas da ira" é todo de cortar o coração, é um filme duro, cru, que
mostra de maneira sincera uma triste realidade: a situação dos pobres na época
da depressão de 29 nos EUA. Não se engane, não espere um filme de esperança,
apesar de não ter um final ruim, os problemas também não se resolvem. O filme
foi baseado no livro de John Steinbeck, que fez um amplo trabalho de campo e
pesquisa para sua escrita, acompanhou de fato uma família que foi despejada de
sua casa e partiu para Califórnia em busca de melhores condições, mas diferente
do filme, que tem uma trajetória ascendente (apesar de não ter um final feliz
hollywoodiano), li que o livro é ainda mais desesperançoso.
O
filme se inicia com Tom Joad (Henry Fonda) voltando para casa após cumprir
quatro anos de prisão por ter matado um homem numa briga. Quando chega em casa,
em Oklahoma, a situação de sua família é caótica: todos eles, incluindo
vizinhos, foi despejados de suas terras por conta de grandes empresas
agricultoras, e agora todos decidiram migrar para Califórnia, na esperança de
encontrar trabalho e condições melhores. Assim eles partem em viagem, num
caminhão com todas as coisas e toda a família (irmãos, avós, pais, tio,
cunhado). Neste momento no qual se transforma em filme de estrada eles vão
redescobrindo a realidade a partir tanto da estrada, quanto das paradas; eles
encontram situações muito difíceis e percebem a realidade do país,
são vários "caminhões casas", pessoas carregando sua vida, porque já
não tem onde morar e se submetendo a qualquer condição de trabalho para não
morrer de fome, é terrível.
A
família chega na Califórnia e percebe que o sonho de melhores condições de vida
foi em vão, e eles têm que morar num acampamento com outra milhares de famílias
que são humilhadas pelo poder público e passam fome. O trajeto continua até
encontrarem um acampamento do governo onde encontram melhores condições para
morar e viver.
A
situação mostrada, de extrema desigualdade social, talvez nem seja tão chocante
para nós brasileiros (apesar de minimizada nos últimos anos); a situação da
família Joad poderia ser transportada para o Brasil, para as famílias pobres do
nordeste brasileiro frente a grande riqueza de empresários do sul.
Mas se há esperança em “Vinhas
da ira” ela está ao final, no lindo discurso de Tom Joad:
"Um
homem não tem sua própria alma, apenas um pedaço de uma alma grande. Uma alma
grande que pertence a todos. Então não importará. Eu estarei nos cantos
escuros, Estarei em todo lugar. Onde quer que olhe. Onde houver uma luta para
que os famintos possam comer, eu estarei lá. Onde houver um policial surrando
um sujeito, eu estarei lá. Estarei onde os homens gritam quando estão
enlouquecidos. Estarei onde as crianças riem quando estão com fome e sabem que
o jantar está pronto. E, quando as pessoas estiverem comendo o que plantaram e
vivendo nas casas que construíram, eu também estarei lá."
As vinhas da ira (The
grapes of wrath, EUA, 1940) ****
Filme imperdível.
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