terça-feira, 5 de março de 2013

64º - "A Riviera não é aqui"



"Viu, eu tinha razão: um estranho quando chega ao norte, chora duas vezes: quando chega e quando vai embora"

Engraçado as coincidências da vida, ontem mesmo, antes de ver este filme pela 1º vez, eu encontrei um amigo querido que não via há tempos e pimba, caiu no meu colo este filme que me lembrou muito o Humberto, porque é francês e porque fala sobre hospitalidade. Sim, o filme de maior bilheteria na França - "17,4 milhões de pessoas assistiram ao filme, que só não superou Titanic em público por lá" (fonte) - é uma comédia baseada nas diferenças regionais.
"A Riviera não é aqui" conta a história de Philippe (Kad Merad) um gerente de agências dos correios que tem uma esposa deprimida (enjoada é a palavra correta) e para melhorar o astral dela resolve mudar-se para o sul, para Riviera, morar perto no mar, na Côte d’Azur. Acontece que sua transferência, que já estava praticamente certa, não sai e como Philippe força a barra (finge ser deficiente para conseguir a vaga) a empresa o pune da pior maneira possível (pior que demissão!): o manda para o norte, quase fronteira com a Bélgica.
Philippe fica arrasado, desanimado, sua mulher decide não ir com ele e tudo porque a visão que eles fazem do norte, e das pessoas do norte, é terrível: são rudes, mal-educados, falam estranho (ch’ti), além de fazer o mesmo frio que no Pólo Norte. Povoado por essas visões, Philippe parte para o norte vestido como um esquimó e quase é multado por falta de velocidade (e só é perdoado já que está andando devagar porque vai para Nord-Pas-de-Calais).
Quando Philippe chega em seu destino tudo é terrível para ele (a cidade é pequena, as pessoas são simples e inocentes), mas ele logo se rende, numa cena linda, na qual seus funcionários dos correios - apesar de terem sido hostilizados durante o dia pelo chefe - se juntam para mobiliar a casa de Philippe, pronto, ele se rende. Apesar do dialeto e das diferenças culturais, o povo de Bergues é o modelo do que pode ser considerado hospitaleiro, ali há todos os elementos centrados na dádiva, no dar-receber-retribuir, na aproximação e troca de valores, culturas e costumes (a cena na qual Antoine - o carteiro - e Philippe vão juntos entregar as cartas e ficam bêbados pois não podem recusar as bebidas oferecidas pelo povo local ilustra bem).
Mas tudo isso permeado por bastante humor, o filme é bem divertido, e na hora que Philippe começa a amar seu local de trabalho e as pessoas dali, ele tem que mentir para sua esposa, pois percebe que quanto mais fala à ela que está sofrendo no norte, mais carinho, atenção e paciência ela lhe retribui.
Há cenas lindas durante o filme, como Antoine Baileul (Dany Boon) tocando os sinos da cidade, sendo que este direito lhe foi passado na família. Assim, o filme também faz uma referência às pequenas cidades, onde determinados valores são resgatados, onde a simplicidade e a amizade são conservados.
E eu fiquei pensando mesmo foi no Brasil, a França não é um país tão pequeno, mas em relação ao Brasil... Se lá há tantas diferenças e estereótipos entre as regiões, imagine cá, entre nós?
A Riviera não é aqui (Bienvenue chez les Ch’tis, França, 2008) ***

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