domingo, 3 de março de 2013

62º - "Coisas belas e sujas"



"Nada é tão perigoso quanto um homem virtuoso"

Ahh Londres, cidade do 1º mundo, Hyde Park, Big Ben, London Eye, com seu povo pontual e correto, com sua monarquia sofisticada, certo? Não para "Coisas belas e sujas". Aqui no filme de Stephen Frears, o que aparece é a Londres marginal, composta por quem sequer tem direito a ser encarado como pessoa, os imigrantes ilegais. São vários durante o filme: turcos, espanhol, russo, chinês, nigeriano... E para os que (sobre)vivem fora da lei, a Londres apresentada é também uma cidade sem lei, sem escrúpulos. E se é difícil para um homem sobreviver como ilegal, imagine para uma mulher que tem que ser submetidas a outros tipos de violência. Audrey Tautou (que aparece neste longa logo depois de ter o sucesso todo com a delicinha e marcante Amélie Poulain, interpreta neste filme Senay uma imigrante turca) que era virgem por convicções religiosas e estuprada duas vezes em dois momentos diferentes por dois homens; triste.
Mas apesar da dureza de temas, o filme não é tão pesado, porque ele está centrado em ações e também no amor. "Coisas belas e sujas" é sobre as histórias desses imigrantes, centrada principalmente em Okwe (Chiwetel Ejifor) que é um médico nigeriano e por questões políticas de seu país tem que fugir. Okwe trabalha como motorista de táxi e como recepcionista num hotel, e não dorme (vive sob efeito de uma erva para não dormir). Acontece que um dia Okwe descobre um coração humano que entupia um vaso sanitário, e a partir daí descobre um esquema de tráfico de órgãos. Num país onde a mão de obra imigrante (ou não) já é tão abundante e barata, o que sobra é vender - literalmente - o próprio corpo; assim alguns imigrantes vendem seus rins (sendo operados em situações degradantes no próprio hotel) em troca de um passaporte que lhe permitem viver livremente.
Senay trabalha como camareira no hotel e cede seu sofá para Okwe descansar (porque ele não dorme), e durante o filme desenvolvem um amor, bonito, fruto das enormes dificuldades que vivem; aliás é possível ver que os próprios imigrantes se aproximam, se solidarizam uns com outros.
A capa do filme é terrível, não tem nada
a ver com o filme, nem com a personagem
de Audrey
Como filme de suspense que é, o final é um deleite, mas não é clichê. O vilão - o gerente do hotel - leva o troco da melhor maneira possível, perdendo seu próprio rim. E é quando Okwe vai entregar o rim que aparece um genuíno inglês, quando estão juntos Okwe, Senay e Juliette (uma prostituta boa gente que Okwe também ajuda), o inglês lhe pergunta: "como é que nunca vi você antes?", e ele lhe devolve: "porque somos gente que vocês não vêem. Nós dirigimos seus táxis, limpamos seus quartos, chupamos seus paus."
Coisas belas e sujas (Dirty Pretty Thing, Reino Unido, 2002) ****

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