"Tomates verdes
fritos" foi um filme badalado na década de 1990. Eu me lembro de ouvir
falar muito dele; não é por menos, é difícil não amar um filme que trata tão
delicadamente de situações tão complicadas. Um filme cujas protagonistas são
mulheres, mas que não é para “mulherzinhas”, com romances e amores. É
um filme feminista, sobre a amizade entre mulheres e seu papel transformador.
"Tomates" se passa em duas épocas: a mais recente é concentrada em Evelyn Couch
(Kathy Bates) uma mulher já na meia idade, gorda (falo gorda como um adjetivo, tenho que explicar porque, infelizmente - numa sociedade na qual ser gord@ é errado - é uma palavra que chega a ser pejorativa) e casada com um marido que não
lhe dá nem um pouco de atenção, mas Evelyn é uma boa mulher e vai toda semana,
junto com o marido, visitar sua tia que não gosta de visitas e nem de Evelyn.
Então, colocada pra fora do quarto da tia do marido, Evelyn começa a andar pelo
lar de idosos e conhece Ninny Threadgoode (Jessica Tandy, super gracinha neste
filme, muito mais agradável e carismática que Miss Daisy). Ninny é muito
educada e boa de prosa e logo começa a contar uma história que aconteceu há
muito tempo para Evelyn. A história contada, então, nos remete para a outra
época relatada no filme: a história de Idgie (Mary Stuart-Masterson) e Ruth
Jamison (Mary-Louise Parker, a protagonista da série Weeds); a história das
duas não foi fácil, envolve morte, violência doméstica, preconceito, racismo e
por aí vai, mas as duas - isto na época 1920/1930 - conseguiram ter sua
independência apesar de tudo e lutaram por seus ideais, Ruth se separou do
marido violento, foi mãe solteira, Idgie que sempre foi fora dos padrões
femininos (nunca se vestiu como se esperava de uma mulher), bebia, fumava e
ambas conviviam abertamente com negros em seu estabelecimento.
Toda
essa história contada por Ninny faz Evelyn se transformar. Ela que até então
era uma dona de casa submissa que fazia cursos de mulher para mulheres
apimentarem seus casamentos (piada!) começa a perceber a força que Idgie e Ruth
tiveram numa época que as mulheres tinham um papel restritivo na sociedade; e
assim Evelyn se liberta, encontra também sua força.
Além
de tudo o filme, que é extremamente delicado e tem como protagonistas minorias
sociais: mulheres, negras, uma senhora, uma mulher de meia idade e gorda, negros,
gay (porque Idgie amava Ruth, vamos lá!), e dos pouquíssimos homens brancos
heteros que aparecem, um é o marido canalha e violento de Ruth e outro é um
bobão policial atrás de Frank Bennet (o marido de Ruth) e doido para incriminar
Idgie e Big Joe (seu grande amigo, negro). E tem ainda Sipsey uma personagem linda, negra e velha e com uma ação central no filme, interpretada por Cicely Tyson, que também fez o ótimo "Histórias Cruzadas".
Tão
bonito é ver que é Ninny (uma senhorinha super simpática, sempre com roupas e
meias coloridas e All Star) é quem muda - através de histórias, assim como
"Peixe Grande" - a vida de Evelyn, a faz ter mais consciência de si,
a ser independente e a se amar. Evelyn deixe de se sentir inútil e fraca
(palavras dela) até se perceber de outra forma, revelando um discurso meio
histérico que é ótimo, quando ela acaba de bater no carro de duas bobocas e
chega até Ninny dizendo que se sente ótima por ter perdido a razão, que se
sente capaz de tudo, de eliminar do mundo os picaretas, de banir as modelos
magras, de dar metade do orçamento militar para pessoas com mais de 65 anos e
de declará-las sexualmente atraentes... Eu adorei. E no final das contas tudo
que Evelyn quer é retribuir, é dar à Ninny todo o amor que ela o tem dado. Enfim, imperdível.
Tomates
verdes fritos (Fried green tomatoes at the Whistle Stop Café, EUA, 1991) *****
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