"Estou com dor de
hostilidade e uma enxaqueca. Não vejo o meu psiquiatra há 200 anos. Ele era
estritamente freudiano.... se tivesse esse tempo todo estaria curado
agora."
Em "O
dorminhoco" Woody Allen não só dirigiu, como interpretou o protagonista,
escreveu o roteiro e compôs a trilha sonora, fala aí se ele não é incrível? E o
filme é uma delícia de ver, super divertido, de um jeito que o Woody não é
mais, meio pastelão, mas sempre, sempre com diálogos afinadíssimos. Aliás, os
diálogos travados em "O dorminhoco" são tão bons que eu gostaria de
transcrevê-los aqui, mas isso tomaria um tempo e dedicação que infelizmente não
tenho no momento, são sempre em tons de humor, mas um humor ácido, sarcástico,
que eu adoro!
No
filme Miles Monroe é um novaiorquino, que toca clarinete e tem um restaurante
natureba em 1973, ele precisa fazer uma operação simples, por conta de uma
úlcera, só que ocorre um imprevisto, a equipe médica o "congela" e
ele acorda 200 anos depois, em 2173. No futuro, como visto em outros filmes, a
sociedade vive sob a guarda do "líder" num regime totalitário, já que
as maravilhas da tecnologia serviram para controle da população - a identidade
é totalmente controlada via tecnologia, digitais, fotos, mapeamento do que você
pensa - e neste processo quem pensa diferente do previsto é capturado pela
polícia para ter seu cérebro "simplificado eletronicamente".
Mas
no futuro de Allen não há apenas coisas ruins, os hábitos alimentares, por
exemplo, são nosso (meu) sonho de consumo: quando Miles Monroe acorda e pede no
café da manhã germe de trigo, mel orgânico e barra de proteína a médica
assusta, mas seu colega logo lhe explica,
""-Essas eram substâncias que no
passado acreditava-se terem propriedades saudáveis.
- Quer dizer que não havia gordura pesada? Nem
bife ou tortas ou calda de chocolate?
- Acreditava-se que isso não era saudável,
precisamente o oposta da realidade."
Ahh,
que delícia, nessa hora eu já estava convencida a me congelar e poder comer
chocolate e torresmo à vontade... Mais tarde, quando Monroe conhece sua
realidade, entra num colapso histérico e o médico lhe recomenda que fume um
cigarro, pois é uma das melhores coisas para a saúde...
Além
de cômico, o futuro de Allen é desses bem robotizados, com alta tecnologia, até
o orgasmo é obtido numa máquina, já que todos os homens e mulheres são
frígidos. Ainda há outros elementos, como uma bola que é como uma droga que
passa de mão em mão, roupas flutuantes, carros como cápsula, etc.
Os
médicos que "descongelaram" Monroe o fizeram por um motivo: fazer com
que ele - que não tem sua identidade controlada - se junte aos rebeldes e
ajude a fazer cair "o líder". Neste processo ele conhece Luna (Diane
Keaton, lindíssima) que é uma pseudo intelectual, pseudo artista (como existem
tantos por aí), poetisa, mas na verdade é fútil, só vive de festas, não
questiona sua realidade e julga quem o faz (é graduada em poesia e técnicas
sexuais e doutora em sexo oral, mas só faz sexo na máquina!!), mas seu encontro
com Miles a faz perceber sua verdade e se unir ao grupo de rebeldes até o final
que ela se junta à Miles, sorri e diz algo do tipo, 'eu vejo que você me ama de
verdade, mas os relacionamentos não duram, existe um hormônio, já comprovado,
que impede que o romance dure'. Mas para Miles não há problemas, pois não
confia na ciência, nem na política, tampouco em Deus, acredita apena no sexo e
na morte. Viva Woody, meu coração é seu!
O
dorminhoco (Sleeper, EUA, 1973) *****
Nenhum comentário:
Postar um comentário