Qual é a maior vilã da
história do cinema? Para mim não há dúvidas: a enfermeira-chefe Ratched (Louise
Fletcher) de "Um estranho no ninho", ela é muito má, e não é deste
tipo que mata e fica fazendo planos mirabolantes para conquistar o mundo: ela
vai nas sutilezas, nos detalhes, sempre com uma calma irônica, com um olhar
debochado. Ela ainda se apropria de um grande poder que tem, faz jogos
psicológicos com seus pacientes - que são considerados loucos e vivem numa
clínica psiquiátrica controlada por ela - os mantendo lá; até que ponto ela tem
interesse em curá-los ou mantê-los ali para saciar seu desejo de controle e
poder; quem é mesmo o louco?
"Um
estranho" trata de tantos assuntos delicados e pesados que é impossível
não se maravilhar com a história, é chocante! Quantas vezes já vimos, na
realidade, no cinema, pessoas tentando se passar por doidos para 'fugirem' da
cadeia e cumprir sua pena num hospital? Para citar aqui, eu me lembrei do
Johnny (do filme "Meu nome não é Johnny"). "Um estranho"
começa justamente assim, Randle Patrick McMurphy (Jack Nicholson, fantástico,
além de ser um ator incrível tem cara de doido mesmo, fala sério?! Só lembrar
de "O iluminado") é um prisioneiro malandro, que foi preso por
algazarra e estupro, que não quer saber de ter que trabalhar na prisão e então
forja sua insanidade para ir a uma instituição para doentes mentais, onde
passará por uma avaliação de especialistas que julgarão sua sanidade
mental.
Randle
é bem malandro, não gosta de seguir ordens e tenta subverter a ordem rígida
colocada por Ratched, a provocando. Junto com um grupo de mais oito pessoas,
todos loucos, ele vai viver ali na clínica e desenvolve amizades. Isto porque
Randle não é um cara ruim ou babaca, ele tem várias chances de fugir e não
concluiu seu intuito por que: é malandro demais chegando a ser imbecil, por sua
lealdade aos amigos e também, por que não? É também um pouco insano. Ele se
revolta com as normas rígidas do hospital, e percebe que lá, apesar da
aparência, a liberdade é ainda mais cerceada; ele tenta fugir arrancando uma
grande pia do chão do banheiro, mas não tem força suficiente. Para Randle será
tranquilo levar a situação e até divertido, eu me diverti bastante em várias
passagens. E ele não é mole, tenta subverter a ordem todo o tempo, como quando
fogem para pescar, e eles voltam, também provando que apesar de loucos eles
conseguem conviver em sociedade, provando que não precisam se fechar na própria loucura.
A
equipe médica atesta que Randle não é louco e pode voltar para a prisão, mas
Ratched, num discurso pseudo, defende sua permanência, pois eles não podem
desistir do ser humano. Balela, o que ela quer é controle, e logo Randle
descobre que, se na prisão sua pena é determinada, ali no hospital ele só sairá
quando a enfermeira-chefe atestar sua sanidade, ou seja... Ele resolve fugir
junto com "chefe" um índio muito grande e muito forte que todos
acreditavam ser surdo-mudo. A amizade de chefe e Randle é a mais bonita e a
cena final do filme ("a la 'Amour'") é de arrasar, é maravilhosa:
depois de sofrer uma lobotomia, pois Randle tenta matar Ratched (que provoca o
suicídio de Billy Bibbit), o chefe diz a ele algo do tipo: "agora eu tenho
força, você me deu isso, mas nós vamos juntos ser livres", então pega a
pia pesada, joga na janela e foge ao horizonte, incrível, imperdível!
Um
estranho no ninho (One flew over the Cuckoo's Nest, EUA, 1975) *****
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