sexta-feira, 15 de março de 2013

74° - "Um estranho no ninho"


Qual é a maior vilã da história do cinema? Para mim não há dúvidas: a enfermeira-chefe Ratched (Louise Fletcher) de "Um estranho no ninho", ela é muito má, e não é deste tipo que mata e fica fazendo planos mirabolantes para conquistar o mundo: ela vai nas sutilezas, nos detalhes, sempre com uma calma irônica, com um olhar debochado. Ela ainda se apropria de um grande poder que tem, faz jogos psicológicos com seus pacientes - que são considerados loucos e vivem numa clínica psiquiátrica controlada por ela - os mantendo lá; até que ponto ela tem interesse em curá-los ou mantê-los ali para saciar seu desejo de controle e poder; quem é mesmo o louco?
"Um estranho" trata de tantos assuntos delicados e pesados que é impossível não se maravilhar com a história, é chocante! Quantas vezes já vimos, na realidade, no cinema, pessoas tentando se passar por doidos para 'fugirem' da cadeia e cumprir sua pena num hospital? Para citar aqui, eu me lembrei do Johnny (do filme "Meu nome não é Johnny"). "Um estranho" começa justamente assim, Randle Patrick McMurphy (Jack Nicholson, fantástico, além de ser um ator incrível tem cara de doido mesmo, fala sério?! Só lembrar de "O iluminado") é um prisioneiro malandro, que foi preso por algazarra e estupro, que não quer saber de ter que trabalhar na prisão e então forja sua insanidade para ir a uma instituição para doentes mentais, onde passará por uma avaliação de especialistas que julgarão sua sanidade mental. 
Randle é bem malandro, não gosta de seguir ordens e tenta subverter a ordem rígida colocada por Ratched, a provocando. Junto com um grupo de mais oito pessoas, todos loucos, ele vai viver ali na clínica e desenvolve amizades. Isto porque Randle não é um cara ruim ou babaca, ele tem várias chances de fugir e não concluiu seu intuito por que: é malandro demais chegando a ser imbecil, por sua lealdade aos amigos e também, por que não? É também um pouco insano. Ele se revolta com as normas rígidas do hospital, e percebe que lá, apesar da aparência, a liberdade é ainda mais cerceada; ele tenta fugir arrancando uma grande pia do chão do banheiro, mas não tem força suficiente. Para Randle será tranquilo levar a situação e até divertido, eu me diverti bastante em várias passagens. E ele não é mole, tenta subverter a ordem todo o tempo, como quando fogem para pescar, e eles voltam, também provando que apesar de loucos eles conseguem conviver em sociedade, provando que não precisam se fechar na própria loucura.
A equipe médica atesta que Randle não é louco e pode voltar para a prisão, mas Ratched, num discurso pseudo, defende sua permanência, pois eles não podem desistir do ser humano. Balela, o que ela quer é controle, e logo Randle descobre que, se na prisão sua pena é determinada, ali no hospital ele só sairá quando a enfermeira-chefe atestar sua sanidade, ou seja... Ele resolve fugir junto com "chefe" um índio muito grande e muito forte que todos acreditavam ser surdo-mudo. A amizade de chefe e Randle é a mais bonita e a cena final do filme ("a la 'Amour'") é de arrasar, é maravilhosa: depois de sofrer uma lobotomia, pois Randle tenta matar Ratched (que provoca o suicídio de Billy Bibbit), o chefe diz a ele algo do tipo: "agora eu tenho força, você me deu isso, mas nós vamos juntos ser livres", então pega a pia pesada, joga na janela e foge ao horizonte, incrível, imperdível!
Um estranho no ninho (One flew over the Cuckoo's Nest, EUA, 1975) *****

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