sábado, 16 de março de 2013

75° - "As vinhas da ira"


"Eu nunca mais terei medo. Eu tive, porém. Cheguei a pensar que estávamos perdidos. Parecia que só tínhamos inimigos nesse mundo. Como se ninguém fosse amistoso. Eu me senti mal e assustada. Como se estivéssemos perdidos e ninguém ligasse... Os ricos nascem, morrem, e seus filhos também não prestam e desaparecem. Mas nós continuamos. Somos nós que vivemos. Eles não podem acabar conosco. Não podem nos vencer. Nós viveremos para sempre, porque nós somos o povo".
(Mãe)
"As vinhas da ira" é todo de cortar o coração, é um filme duro, cru, que mostra de maneira sincera uma triste realidade: a situação dos pobres na época da depressão de 29 nos EUA. Não se engane, não espere um filme de esperança, apesar de não ter um final ruim, os problemas também não se resolvem. O filme foi baseado no livro de John Steinbeck, que fez um amplo trabalho de campo e pesquisa para sua escrita, acompanhou de fato uma família que foi despejada de sua casa e partiu para Califórnia em busca de melhores condições, mas diferente do filme, que tem uma trajetória ascendente (apesar de não ter um final feliz hollywoodiano), li que o livro é ainda mais desesperançoso.
O filme se inicia com Tom Joad (Henry Fonda) voltando para casa após cumprir quatro anos de prisão por ter matado um homem numa briga. Quando chega em casa, em Oklahoma, a situação de sua família é caótica: todos eles, incluindo vizinhos, foi despejados de suas terras por conta de grandes empresas agricultoras, e agora todos decidiram migrar para Califórnia, na esperança de encontrar trabalho e condições melhores. Assim eles partem em viagem, num caminhão com todas as coisas e toda a família (irmãos, avós, pais, tio, cunhado). Neste momento no qual se transforma em filme de estrada eles vão redescobrindo a realidade a partir tanto da estrada, quanto das paradas; eles encontram situações muito difíceis e percebem a realidade do país, são vários "caminhões casas", pessoas carregando sua vida, porque já não tem onde morar e se submetendo a qualquer condição de trabalho para não morrer de fome, é terrível. 
A família chega na Califórnia e percebe que o sonho de melhores condições de vida foi em vão, e eles têm que morar num acampamento com outra milhares de famílias que são humilhadas pelo poder público e passam fome. O trajeto continua até encontrarem um acampamento do governo onde encontram melhores condições para morar e viver.
A situação mostrada, de extrema desigualdade social, talvez nem seja tão chocante para nós brasileiros (apesar de minimizada nos últimos anos); a situação da família Joad poderia ser transportada para o Brasil, para as famílias pobres do nordeste brasileiro frente a grande riqueza de empresários do sul.
Mas se há esperança em “Vinhas da ira” ela está ao final, no lindo discurso de Tom Joad:
"Um homem não tem sua própria alma, apenas um pedaço de uma alma grande. Uma alma grande que pertence a todos. Então não importará. Eu estarei nos cantos escuros, Estarei em todo lugar. Onde quer que olhe. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, eu estarei lá. Onde houver um policial surrando um sujeito, eu estarei lá. Estarei onde os homens gritam quando estão enlouquecidos. Estarei onde as crianças riem quando estão com fome e sabem que o jantar está pronto. E, quando as pessoas estiverem comendo o que plantaram e vivendo nas casas que construíram, eu também estarei lá."
As vinhas da ira (The grapes of wrath, EUA, 1940) ****

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