quinta-feira, 14 de março de 2013

73° - "O banheiro do Papa"


Bem, o Papa foi escolhido, não se fala em outra coisa, há várias confabulações sobre o que o Papa já fez, o que fará. Particularmente já tive a oportunidade de opinar sobre a Igreja, mas é claro que hoje (ainda que bem menos do que já foi) o líder da Igreja Católica tem um grande poder político no nosso mundo, então é claro que me interessa saber dele, de suas predileções, de seus posicionamentos. Acho que a escolha de um Papa Argentino (primeiro da América Latina na história) é uma escolha também política, afinal nossos hermanos foram os primeiros vizinhos que, sabiamente, aprovam legitimamente um casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sei que na época o então arcebispo, Jorge Mario Bergoglio, travou debate com Cristina Kirchner sobre o casamento entre homossexuais, e não sei até que ponto um Papa Argentino não é uma maneira de frear posições de vanguarda entre nós, porque se na América Latina a religião católica historicamente já era forte, agora então nem se fala, os católicos vão pipocar, criarão uma maior identidade com seu líder maior.
À parte dessas minhas considerações, o Papa, que usará o nome Francisco tem algumas posições que eu aprovei, ele tem recusado o excesso de ostentação da Igreja, andou de ônibus com os outros cardeais, foi pessoalmente pagar a pensão na qual estava hospedado, evitou usar vestes suntuosas, enfim, parece estar tentando se aproximar mais do povo (hum...).
Então eu bem me lembrei de "O banheiro do Papa", um filme que eu já vi não sei quantas vezes, já que eu costumo passá-lo em sala de aula para meus alunos do curso de Eventos. "O banheiro" é um filme muito bom, que mostra uma triste realidade de uma pequena comunidade de Melo, no Uruguai. A comunidade vive na pobreza e parte de seus habitantes tentam sobreviver do contrabando de mercadorias (já que a cidade faz fronteira com o Brasil, eles vão até o outro país, fazem compras e voltam).
Beto (César Trancoso) o protagonista do filme vive deste contrabando como tantos outros, e para evitar a polícia da fronteira eles têm que ir de bicicleta para fazer um desvio na estrada; os que têm condições compram motocicletas, mas são raras. Um dia Beto sofre um problema no joelho e não consegue subir os morros que são importantes para o desvio, decide arriscar e passa em frente à polícia que o revista e toma sua mercadoria. Agora Beto está sem a mercadoria e tem que devolver o dinheiro dos comerciantes locais que o contrataram.
Nesse meio tempo surge a bela noticia: o Papa João Paulo II virá à Melo e essa novidade deixa toda a comunidade agitada, a mídia insiste na notícia, e divulga que milhares de pessoas irão ao evento, o que movimentará a economia local e então várias pessoas da pequena cidade se enchem de esperança.
Largam o emprego, juntam suas economias para montar barracas de comida, bebida, souvenires e tudo o mais para o grande evento. Beto também embarca na situação, e empreendedor que é, resolve montar um banheiro, do lado de fora de sua casa, para alugar às milhares de pessoas que passarão pela cidade.
O final dá até para imaginar, a mídia fantasiou demais a situação e construiu uma falsa esperança na comunidade. No dia da visita do Papa não compareceu em Melo nem um terço dos visitantes esperados. Várias comidas desperdiçadas, várias pessoas desiludidas. E Beto também não conseguiu que seu banheiro fizesse o sucesso pretendido.
O filme é bem bacana para pensarmos em termos de divulgação dos eventos, em véspera de grandes eventos que acontecerão em nosso país, a mídia não se cansa de falar o quanto os megaeventos serão importantes para a economia, o quanto o povo brasileiro ganhará com a divulgação do país. Mexem com nosso brio, com nosso orgulho nacional. Mas quem será que sairá realmente vitorioso nesses eventos? O povo? 
No meio deste ano acontecerá no Rio de Janeiro a "Jornada Mundial da Juventude", primeiro evento internacional do Papa Francisco. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
O banheiro do Papa (El baño del Papa, Uruguai, 2007) ***

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