Bem,
o Papa foi escolhido, não se fala em outra coisa, há várias confabulações sobre
o que o Papa já fez, o que fará. Particularmente já tive a oportunidade de opinar
sobre a Igreja, mas é claro que hoje (ainda que bem menos do que já foi) o
líder da Igreja Católica tem um grande poder político no nosso mundo, então é
claro que me interessa saber dele, de suas predileções, de seus posicionamentos.
Acho que a escolha de um Papa Argentino (primeiro da América Latina na
história) é uma escolha também política, afinal nossos hermanos foram os
primeiros vizinhos que, sabiamente, aprovam legitimamente um casamento entre
pessoas do mesmo sexo. Sei que na época o então arcebispo, Jorge Mario
Bergoglio, travou debate com Cristina Kirchner sobre o casamento entre
homossexuais, e não sei até que ponto um Papa Argentino não é uma maneira de
frear posições de vanguarda entre nós, porque se na América Latina a religião
católica historicamente já era forte, agora então nem se fala, os católicos vão
pipocar, criarão uma maior identidade com seu líder maior.
À parte dessas minhas considerações, o Papa, que
usará o nome Francisco tem algumas posições que eu aprovei, ele tem recusado o
excesso de ostentação da Igreja, andou de ônibus com os outros cardeais, foi
pessoalmente pagar a pensão na qual estava hospedado, evitou usar vestes
suntuosas, enfim, parece estar tentando se aproximar mais do povo (hum...).
Então eu bem me lembrei de "O banheiro do
Papa", um filme que eu já vi não sei quantas vezes, já que eu costumo
passá-lo em sala de aula para meus alunos do curso de Eventos. "O
banheiro" é um filme muito bom, que mostra uma triste realidade de uma
pequena comunidade de Melo, no Uruguai. A comunidade vive na pobreza e parte de
seus habitantes tentam sobreviver do contrabando de mercadorias (já que a
cidade faz fronteira com o Brasil, eles vão até o outro país, fazem compras e
voltam).
Beto (César Trancoso) o protagonista do filme
vive deste contrabando como tantos outros, e para evitar a polícia da fronteira
eles têm que ir de bicicleta para fazer um desvio na estrada; os que têm condições
compram motocicletas, mas são raras. Um dia Beto sofre um problema no joelho e
não consegue subir os morros que são importantes para o desvio, decide arriscar
e passa em frente à polícia que o revista e toma sua mercadoria. Agora Beto
está sem a mercadoria e tem que devolver o dinheiro dos comerciantes locais que
o contrataram.
Nesse meio tempo surge a bela noticia: o Papa
João Paulo II virá à Melo e essa novidade deixa toda a comunidade agitada, a
mídia insiste na notícia, e divulga que milhares de pessoas irão ao evento, o
que movimentará a economia local e então várias pessoas da pequena cidade se
enchem de esperança.
Largam o emprego, juntam suas economias para
montar barracas de comida, bebida, souvenires e tudo o mais para o grande
evento. Beto também embarca na situação, e empreendedor que é, resolve montar
um banheiro, do lado de fora de sua casa, para alugar às milhares de pessoas
que passarão pela cidade.
O final dá até para imaginar, a mídia fantasiou
demais a situação e construiu uma falsa esperança na comunidade. No dia da
visita do Papa não compareceu em Melo nem um terço dos visitantes esperados.
Várias comidas desperdiçadas, várias pessoas desiludidas. E Beto também não
conseguiu que seu banheiro fizesse o sucesso pretendido.
O filme é bem bacana para pensarmos em termos de
divulgação dos eventos, em véspera de grandes eventos que acontecerão em nosso
país, a mídia não se cansa de falar o quanto os megaeventos serão importantes
para a economia, o quanto o povo brasileiro ganhará com a divulgação do país.
Mexem com nosso brio, com nosso orgulho nacional. Mas quem será que sairá
realmente vitorioso nesses eventos? O povo?
No meio deste ano acontecerá no Rio de Janeiro a
"Jornada Mundial da Juventude", primeiro evento internacional do
Papa Francisco. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
O banheiro do Papa (El baño del Papa, Uruguai,
2007) ***
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