sexta-feira, 28 de junho de 2013

81º - "E se vivêssemos todos juntos?"

Há poucos anos Woody Allen, ao lançar um filme, deu algumas declarações divertidas sobre envelhecer, para ele a velhice é um mau negócio: "você não fica mais esperto, não fica mais sábio, não fica mais doce ou mais amável. Nada acontece de fato. Suas costas doem mais, você tem mais indigestão, sua visão não é boa, você precisa de ajuda para escutar. Envelhecer não traz, de fato, quaisquer vantagens. Não ficamos mais inteligentes nem mais generosos. Aceitem o meu conselho: evitem envelhecer".
Falar sobre velhice é sempre arriscado, é um assunto cheio de tabus. A verdade é que, se pudéssemos escolher, evitaríamos mesmo envelhecer: a saúde fica debilitada, a beleza se vai (porque já estão fora do padrão de beleza) e os velhos são marginalizados na nossa sociedade que, primando pelo trabalho (pela mão de obra, pelo dinheiro) desvaloriza àqueles que já não alimentam mais o sistema (mas se alimentam dele). Se antigamente (e isso ainda resiste, essencialmente em cidades pequenas) ao velho cabia o papel de interlocutor da tradição e da sabedoria de vida, nem isso lhe cabe mais. Ao mesmo tempo ser velho ficou ultrapassado, e as pessoas evitam ao máximo, prolongando a vida adulta com fórmulas milagrosas. Não dá para culpá-los, ninguém quer ser velho, porque todo mundo quer ser alguém e o velho é ninguém (estou aqui parafraseando Ecléa Bosi).
Mas ficar velho é realmente inevitável - para quem quer, e pode, continuar vivo - e por ser inevitável a velhice o assunto é evitável, porque dificilmente as pessoas querem olhar para um espelho, ainda que futuro, principalmente no cinema, num momento de lazer.
Por esses assuntos delicados e por outras questões (que eu já falei um pouco aqui) o cinema - que é o reflexo da nossa sociedade - também não quer falar de velhice e é raro ter um protagonista velho. Por todos os motivos listados acima, assistir a "E se vivêssemos todos juntos?" é um deleite. Além de todos os protagonistas serem velhos, de tratar os tabus da velhice, o filme mostra de uma maneira delicada, sincera e esperançosa o processo de envelhecimento, este é o enfoque do filme.
O filme mostra com uma sinceridade bonita e brutal temas e imagens que dificilmente vemos no cinema, os velhos ali lidam com uma dignidade incomum os problemas trazidos pelo envelhecimento. As imagens também são cristalinas, a câmera e os closes não evitam esconder as rugas e a aparência real, sem – ou com pouca – maquiagem (maquiagem aqui em vários sentidos).
Neste processo a proposta do filme é realmente tentadora: e se vivêssemos juntos? E se deixássemos de ser um problema e fôssemos a solução?
A história é sobre 5 amigos, quatro deles formam dois casais e o quinto, ...., foi amante das duas mulheres do grupo, há quarenta anos. Mas bem poderia ser na atualidade, porque "E se vivêssemos" fala, sem pudor e muitas vezes, sobre o sexo, sobre o desejo, sobre masturbação.
Claude (Claude Rich), o único solteiro do grupo, tem um ataque cardíaco quando está chegando ao quarto da garota de programa que visita - e fotografa - com certa frequência. Seu filho propõe ao pai que feche o apartamento no qual mora sozinho e passe a viver numa casa de repouso. Os amigos vão visitá-lo, mas diante da situação (que não é das piores, mas uma casa com velhos debilitados) resolvem levar embora o amigo e, assim, morarem juntos.
Outros amigos também estão doentes, como Albert (Pierre Richard) que está com problemas graves de memória e sua esposa, Jeanne (Jane Fonda, está linda como sempre) que está com câncer. Mas as doenças são meros coadjuvantes na história, elas fazem parte da vida, são lidadas com uma clareza e honestidade belíssimas.
Junto com esses acontecimentos tem Dirk (Daniel Bruhl de “Adeus, Lênin”, “Edukators” e “Bastardos Inglórios”) que é um estudante de etnologia e pretende fazer sua tese sobre o processo de envelhecimento dos aborígenes australianos, mas depois muda seu objeto (sujeito) de pesquisa para os europeus, e vai morar com os amigos a fim de fazer sua etnografia.
A cena de morte, também outro tabu, é tratada com humor e generosidade e a cena final é uma linda síntese de um filme que é todo coerente. Por aqui já estou cooptando meus amigos, "E se vivêssemos todos juntos?" é um filme, afinal, sobre esperança. 
E se vivêssemos todos juntos? (Et si on vivait tous ensemble?, França, 2012) *****

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