Charles Chaplin, um dos maiores cineastas da história do cinema,
provavelmente estaria feliz se estivesse no Brasil por estes dias. Produtor,
diretor e roteirista do filme “Tempos Modernos”, Chaplin encontraria aqui
elementos capazes de lhe gerar um novo filme. As inúmeras manifestações que
borbulharam – e ainda borbulham – em várias cidades em nosso país são dignas de
críticas – positivas e negativas. As pessoas vão às ruas por motivos difusos e
confusos, não elegeram um líder ou um protagonista para glorificar ou
crucificar. Mas as diferentes pautas giram em torno de uma grande insatisfação
com nossa condição política – e, principalmente, urbana – que gerou grande
mobilização da sociedade (incentivada pela internet/tecnologia).
“Tempos Modernos” é o retrato de uma urbanidade cruel aliada a uma
desigualdade social perversa. Chaplin relata com humor, ironia e certa
melancolia a realidade de uma classe social que, vivendo na sociedade
industrial, encara níveis de pobreza, desemprego, fome.
Para contar a história do pobre Carlitos e sua namorada, Chaplin
lança mão de diversas metáforas enquanto linguagem cinematográfica.
A cena inicial do filme mostra um bando de ovelhas indo para o
abate e segue sobreposta com uma multidão de pessoas saindo do metrô e indo ao
trabalho. Entre eles a “ovelha negra” Carlitos inicia o filme como um operário,
que enlouquece diante do trabalho repetitivo e exaustivo, por ser tratado como
uma engrenagem da máquina social. A cena clássica do filme – e do cinema – é
uma metáfora, onde Carlitos é engolido por uma máquina, assim como o
trabalhador é engolido pelo sistema capitalista de produção.
As metáforas pontuam o filme, essencialmente quando Carlitos e a
namorada sonham com uma vida classe média/média alta, seja sonhando em ter uma
casa, seja na loja quando Carlitos trabalha como vigia noturno e a garota dorme
“em berço de ouro”.
Entretanto, baseado em perspectivas pessoais, a metáfora que eu
elejo é a do final do filme, depois de todo sofrimento imposto ao casal pelas
instituições sociais (como a polícia, o Estado, o capital) há ainda em Chaplin,
através do casal, uma visão otimista. Quando o casal, juntos e de mãos dadas
caminham, a estrada voltada para o infinito é a metáfora da esperança, mesmo
com toda tristeza infinitas possibilidades ainda se apresentam e nelas a
felicidade ainda pode ser encontrada.
Tempos Modernos (Modern Times, EUA, 1936) *****
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